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COMO ME TORNEI A “PATROA” DE UM MACHO - PARTE 1

Quase em frente meu prédio tem um bar que eu costumo de vez em quando tomar um café. É um bar normal, simples, cheio de homens héteros – dos atendentes aos frequentadores (quase). Gosto de lá, principalmente, pelos papos bem machistas que rolam e como não dou bandeira – tento, é divertido. Falam de futebol, que não entendo nada; de política – imaginem; de mulher e das coisas que fazem com elas – quase todo o tempo; sempre tocando músicas “bregas” em uma dessas rádios populares, com horáscopo, cartas, etc. às vezes, perguntam minha opinião, saio pela tangente, mas dou risada. Tem umas mesas para almoço que pela manhã sempre tem alguém sentado para tomar o café e nessa comunidade acabamos conhecendo o barbeiro da rua, o bicheiro, o dono da papelaria, da lavanderia, entre outros. Uma figura comum é o gerente do estacionamento que fica bem em frente e este merece destaque.



Um rapaz de aproximadamente 2627 anos (32), vindo do nordeste, não é muito bonito, mas é muito engraçado. Sempre dá uma fugida para um café, uma coca e toda vez que entra no bar aquilo se transforma em “uma tarde no circo”. Meche com todos e todos mechem com ele. Engraçado, sempre rindo, brincando e tirando sarro – um gozador. às vezes quando o cozinheiro, que fica naqueles buracos feitos na parede em quase todos os bares, termina algum prato que será servido no almoço, dá um sinal para ele que entra correndo, faz um prato e fica beliscando enquanto corre até a porta para olhar o estacionamento; enquanto petisca rapidamente, brinca e vai contando os besteirois do dia. Isto entre 9:00 e 10:00 horas da manhã.



Numa dessas manhãs eu estava tomando um café quando ele sentou numa cadeira em frente a minha, bem debaixo daquele buraco na parede – ele estava beliscando dobradinha. Até me ofereceu e eu rindo recusei dizendo que era muito cedo, mas ele riu e disse que era pÂ’ra repor as forças – batendo no muque, como se costuma dizer. O dono do bar, gozando, falou que sá se fosse de punheta, pois a “dona da pensão” tinha dado no pé depois que ele comeu e não quis casar. Foi a maior gozação. E ele respondeu que foi uma outra e que punheta não tirava as forças, pois ele batia umas 4 ou 5 por dia, na maior. Mais gozação.



Deu uma saída rápida até a porta para olhar o estacionamento, pegou um refrigerante e sentou novamente para terminar seu prato. Quando sentou, puxando conversa me contou que ele comia direto e reto uma mina que trabalhava ali por perto e ela até levava suas roupas para lavar – lavava suas cuecas (risos). Mas ela estava querendo casar e ele desconversou – ela saiu fora e agora ele tinha que se virar em todos os sentidos – a trepada e na lavagem da roupa. Explicando, ele mora no práprio estacionamento que era um casarão antigo demolido, que provavelmente se erguerá um prédio e ele mora no que restou da dependência para empregados no fim do terreno.



No dia seguinte quando encontrei com ele, perguntei como estava a roupa, pois as trepadas, pelo que contou, ele estava se virando bem. Sentou-se na minha frente e falando mais baixo para que ninguém ouvisse, disse que nada cara, a “comidinha” toda noite era muito boa e agora tinha era que tocar punheta o dia todo. Já a roupa tava um caos, pois tinha que lavar no chuveiro e nem tinha lugar para estender, além de que lavar na lavanderia saia muito caro. Sugeri que ele comprasse uma máquina de lavar e ele rindo respondeu que nem teria lugar para colocar e que de repente poderia ter que mudar.



Observando bem ele tem um jeito bem vaidoso, pois sempre está bem alinhado, com os sapatos limpos e engraxados, calças com vinco perfeito, camisa dentro das calças e bem passadas – não é relaxado para vestir-se. Fiquei duplamente condoído (risos). Falei que já passei por esse problema, mas como fui morar sozinho comprei uma máquina e resolvi pelo menos este problema. Ele riu. Eu sem dar chance ofereci minha máquina. Ele me olhou sério, meio interrogativo e eu acrescentei que não teria problema nenhum lavar algumas peças a mais, pois sempre uso o nível mínimo de água por ser pouca a roupa de uma pessoa. Ficou sem graça e agradeceu, mas falou que não tinha cabimento eu lavar as cuecas e as meias dele. Eu retruquei dizendo que sabia o que ele estava pensando, mas que não precisava se vexar, pois eu entendia a situação e realmente gostaria de ajudar, além do que, amigo é para essas horas. Ele agradeceu e rindo saiu correndo para o estacionamento, como sempre fazia.



Um ou dois dias depois quando nos encontramos novamente no bar, depois das brincadeiras costumeiras quando eu estava saindo e ele também, já na calçada fora do bar perguntou se eu estava falando sério sobre as roupas e eu disse que sim, sinceramente. Ele disse que tinha sido legal da minha parte, mas que ficava até sem graça e não sabia o que dizer. Não diga nada, eu disse, vamos lá e enfia tudo numa sacola que eu lavo, ou melhor, a máquina lava pÂ’ra você. E fomos até o estacionamento. Ele chamou o manobrista para ficar na guarita enquanto fomos para sua casa. Um quarto grande e apesar de estar com a janela fechada era bem arejado e não tinha cheiro de mofo. Tinha uma cama, uma mesa e uma cadeira, um armário pequeno e um banheiro bem grande de onde dava para ver as suas roupas estendidas. Confessou que estava encabulado mas que suas camisas estavam ficando muito feias e colocou 2 em uma sacola de super mercado. Eu falei pÂ’ra ele aproveitar e colocar também as meias e as cuecas. Ele rindo perguntou se eu estava falando sério e eu perguntei qual seria o problema, inclusive que ele poderia colocar também os lençáis e as toalhas, pois dormir em panos sujos e se enxugar em toalhas fedidas, era muito ruim. Ta brincando? Não, não estou e rapidamente fui arrancando o lençol da cama dele. Ele me olhou com olhos arregalados e acrescentou que desse jeito eu me tornaria a “dona patroa” e eu cinicamente, disse que por lavar roupas não seria nada e “dona patroa” sá se fosse com muito carinho. Rimos da brincadeira – pelo menos para ele e saí com uma trouxa de roupas em um saco de lixo.



Como trabalho em casa, aproveitei o dia quente para começar a lavar as roupas dele e entregar até o final do dia. Separei as roupas é claro, cheirei suas cuecas que tinham um leve amarelado na frente, um cheiro gostoso de macho, como todas as suas roupas. A maioria das suas meias era preta, pois ele sempre usava calça social com sapatos de amarrar. Tomei o cuidado de coloca-las em sacos especiais para roupas, para não ficarem com aquelas bolinhas indesejadas e horrorosas. É claro que eu estava louco de tesão.



Depois de bem lavadas e perfumadas com amaciante, coloquei-as com cuidado no varal para secarem. No meio da tarde já estavam secas e com carinho comecei a passa-las. Passei as camisas impecavelmente como gosto e como percebi que ele também gostava de usar; suas camisetas, suas meias e cuecas, depois as dobrei com capricho como se saíssem de uma loja. Como deixei por último as roupas de cama e a tolha (gosto de lavar as roupas separadas por tecidos) e ainda não estavam secas, coloquei as demais roupas em uma bolsa de viagem, junto com um jogo de lençáis e de toalhas dos meus. Tinha uma cueca que estava com o elástico arrebentado e eu coloquei duas novas no lugar e mais um par de meias, também novo. No começo da noite passei pelo estacionamento e entreguei a bolsa com as roupas para ele – dentro estava o número do meu telefone e o número do meu celular.



O estacionamento tem um grande movimento à noite, de 2ª a 6ª, devido a uma faculdade nas proximidades, sem contar que de 5ª a domingo, também à noite, existem 2 teatros bem práximos que lotam o estacionamento, tendo um grande número de manobristas. Depois fiquei sabendo que à tarde ele tirava algumas horas para descanso, para voltar a trabalhar à noite e que depois das 23:00 horas, enquanto ele vai dormir, tem um guarda noturno que fica na guarita até de manhã.



Por volta das 23:30 horas ele me ligou do seu quarto, agradecendo e elogiando o trabalho. Ficamos quase meia-hora conversando e eu expliquei que os lençáis e as tolhas não estavam ainda secos e para que ele não ficasse sem eu emprestei os meus e disse que ele não ficasse preocupado. Ficou combinado que ele passaria na minha casa, à tarde, no dia seguinte para pega-los e aproveitar para deixar mais roupas. Percebi que ele tinha gostado mas que estava um pouco vexado e cauteloso.



Na manhã seguinte nos encontramos no bar, como de costume, mas com cuidado o cumprimentei sem dizer nada, como se nada estive acontecendo e esperei por ele naquela tarde. Quando o porteiro do meu prédio avisou que ele estava na portaria pedi que subisse. Ele trazia a bolsa com as roupas que tirei e coloquei os lençáis e a toalha para ele levar. Conversamos muito e tive que tranquiliza-lo dizendo que não era nenhum incomodo etc. Aproveitei para mostrar meu apartamento e para descontrair ofereci uma cerveja, que ele aceitou enquanto falava do meu trabalho e ele do dele. Ele agradeceu mais uma vez pelas roupas e por eu não ter falado nada no bar. Combinamos que para não dar o que falar caso alguém soubesse, ele passaria na minha casa, sempre à tarde ou à noite, para pegar e trazer as suas roupas. Quando foi embora estava mais descontraído e sorridente; apertou minha mão com força, quase me abraçando e eu quase o agarrondo, ali mesmo, de pé atrás da porta, mas confiança é tudo e antes de qualquer coisa eu precisava ganhar a dele. Não?

cpjordao@yahoo.com.br

continua...