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DIÁRIO DE UM GATINHO INOCENTE-1

O meu nome... sempre quis me chamar Lucas. É um nome bonito, forte e delicado ao mesmo tempo. Um nome digno de apreciação. Minha vida sempre foi enigmática, até mesmo pra mim. às vezes eu penso: e por que não, ser Lucas? Um instante sá que seja? Já sou tantas pessoas sem querer...

Sou Lucas. Um jovem de 20 belos anos. Que aprendeu a perceber e admirar a beleza, de um luar, de um momento especial, da nudez feminina, da nudez masculina... Um jovem que entende a beleza e que admite a beleza em qualquer coisa ou lugar. Alguém que se conhece e faz de sua fantasia, sua realidade. Um jovem de um sorriso generoso, limpo. De olhar profundo, quente... de ar seguro, sereno, misterioso. Esse sou Eu. Ou será Lucas? (Risos) Sou alguém sensível, que sente medo, dores, dúvidas... até mágoas. Mas acima de tudo, sou forte. Alguém que jamais pede ajuda. A vida nos ensina a sorrir às pessoas e chorar para si mesmo... como naquela tarde...

A voz rouca pelo consumo de cigarro daquele homem me causava certo desconforto, reconheço. Era uma voz determinada, em timbre impostado. Ele tinha um falar pausado, melodioso, molhado eu diria. Seus olhos eram tensos, e sem qualquer brilho. Ele não era bonito, mas tinha um charme. Era um pouco calvo também e seus movimentos quase repetidos me chamavam a atenção para seu corpo suado e para o calor que poderia estar fazendo naquele dia de sol. Ele usava uma roupa um tanto comum, que o dava um ar bem sério. Por vezes ele colocava e tirava seus áculos. Estava nervoso, pude perceber. Carlos era seu nome. E era mesmo. Ele parecia um Carlos. Corpulento, embora levemente gordo. Firme, presente. É assim que um Carlos dever ser, não é? Bem, Carlos era um técnico, que veio à minha casa fazer o concerto no telefone. Senti que assim que entrou e viu um jovem de 19 anos de corpo esguio, belo, apenas de shorts, sua mente deve tê-lo feito suspirar. Era Eu. Mesmo com 20, o meu rosto claro e fino, meus cabelos loiros descansando nos ombros, meus lábios vermelhos e meu olhar brilhante, como os de uma criança, fizeram de Carlos um homem faminto. Ele falava comigo mas seus olhos tensos falavam muito mais. Eu não estava nem aí pro que ele tinha a me dizer. Pessoalmente desprezo esse tipo. Mas senti um forte arrepio quando lhe dei as costas e o convidei a entrar. Eu sentia ele me observar. Um calafrio percorria meu corpo... parecia que era o efeito de seu olhar faminto em meu corpo jovem. O homem pareceu curtir a eternidade durante aquela tarde chata de calor. Suas avaliações, seus movimentos, eram todos muito lentos. Ele pediu pra fumar um cigarro. Detesto, mas deixei. Ele suava, me olhava sentado no sofá com as pernas cruzadas e se virava como num movimento de discordância com seus pensamentos pecaminosos... passava a mão na testa... fumava... passava a mão na testa.

- Está calor, quer que eu pegue um ventilador pro Senhor trabalhar melhor? – lhe perguntei com toda vontade de deixa-lo desconcertado.

- Não, o que é isso, não quero incomodar. E pode me chamar de Você.

- Prefiro Senhor. Já volto, vou buscar o ventilador; quando agente diz que não quer incomodar é apenas vergonha de dizer sim.

Carlos sentiu-se surpreso. Eu disse uma verdade. Quando voltei, ele já havia terminado o cigarro e tinha voltado ao trabalho.

- O Senhor quer um copo de água, um suco, alguma coisa? – Instiguei-o para saber sua reação apenas. Eu estava doido para que ele fosse embora.

- Hum... uma água gelada eu aceito sim, obrigado.

Infelizmente ele não se intimidou. Eu lhe trouxe a água e ele a tomou lentamente olhando para o meu rosto. Então, como ele estava demorando a terminar, eu deitei no sofá. Qual a minha surpresa, o homem engasgou e começou a tossir...

- O Senhor está bem?

- Sim... sim... não foi nada. Acho que foi porque eu estava quente e a água muito gelada.

Resolvi mexer com ele...

- Olha, cuidado hein, na sua idade isso é muito perigoso... risos. A saúde já está frágil... – senti que mexi com seu ego.

- Que isso, eu ainda estou com tudo em cima rapaz. Dou banho em muito rapazinho de 25 anos.

Agora era a minha chance. Fui bem seco e um pouco cruel até...

- Risos... Mas eu não estou aqui pra saber se o Senhor está com tudo em cima, não é? O Senhor ainda não acabou o concerto não?

- Er... desculpe senhor. Está quase terminado.

Se eu pudesse descrever sua reação, seria como jogar um copo daquela mesma água gelada dentro das calças dele. (Risos) Mas é que eu já estava de saco cheio. Estava esperando um amigo da faculdade pra fazer um trabalho. Ele também ficou de dormir em minha casa, porque provavelmente terminaríamos o trabalho um pouco tarde.

Imagine sá... eu tendo de fazer um trabalho, dar atenção a um amigo, preparar nosso lanche e tudo mais, com aquele homem babando por mim e concertando o telefone? Não, esses definitivamente não eram os meus planos para aquela tarde-noite.

Por sorte, Carlos se mancou e terminou logo seu serviço. Minha casa pareceu ficar mais leve quando aquele homem cruzou a porta, se despediu ainda com um olhar que me percorria todo o corpo, e andou em direção ao seu carro. Acenei com um sorriso nos lábios, talvez por pura provocação. (Risos) Mas aquilo não me ajudou em nada. Eu me sentia sozinho e a simples presença daquele homem em minha casa, me fazia ocupar o espaço que há tempos eu dedicava à solidão. Por isso eu esperava por Victor.

Entrei e fui tomar um banho, para receber meu amigo Victor. O cheiro de cigarro me fez sentir sujo. Sá quando senti aquela água fresca se misturando às minhas lágrimas tomando conta de todos os cantos do meu corpo, foi que me senti melhor. Não demorou muito até que meu amigo chegasse e tocasse a campainha. Eu ainda estava no banheiro, apenas de cuecas, acabando de pentear meus cabelos quando fui atendê-lo. Abri a porta e Victor arregalou os olhos.

- Que isso cara? – Ele se referia ao fato deu estar de cuecas. Eu lhe respondi rapidamente, e juro, eu não havia percebido que não havia colocado os shorts...

- Ih, nem percebi cara... risos... foi mal, entra aí... – e fui andando tranquilamente, deixando que ele fechasse a porta - Ah, a chave está na porta, tranca aí por favor.

Victor é um cara bem gato. Ele é um pouco mais alto do que Eu. Deve ter uns 1 e 80, 1 e 80 e alguma coisa... eu tenho 1 e 73 sá. Sabe, o Vic é o tipo do cara cativante. Tem uma carinha de safado, um sorriso típico de gente bacana, olhos pequenos, fechadinhos sabe e está sempre queimado de praia. Ele é loiro também, mas seu cabelo é bem curto se comparado ao meu. Tem um corpo bem legal, diga-se de passagem. Ele tem 21 anos e às vezes, como todo garoto, parece ter 6 sá. Ele diz que eu é que sou muito inocente e que minha vida parece ser uma festa, embora eu discorde. Conheço o Vic faz muito tempo, estudamos juntos o segundo grau inteiro e agora, por sorte, estamos na mesma turma na faculdade. Fazemos Jornalismo juntos. Sempre gostei muito do Vic e de fato nunca havia parado pra pensar na possibilidade de ficar com ele. Eu nunca havia pensado na possibilidade de ficar com um homem. Pra ser sincero, eu sempre fiz um certo charme, gosto de ser observado, desejado. Quem não gosta? Mas nunca havia racionalizado isso... até que...

- Que bundinha bonitinha hein... assim Você me mata, cara!

Quando Victor disse isso, eu realmente pensei... o que ele quis dizer? Senti meu corpo gelar. Um calafrio percorreu-me por inteiro, muito mais fortemente do que quando senti Carlos me observar. Então, subitamente, por impulso, olhei pra traz com esperança de vê-lo a me olhar, me desejar... e ele estava. Estava parado olhando na direção de minha bunda, de verdade... até que nos entreolhamos e sorrimos um ao outro. Voltei ao banheiro.

- Vic, se tu quiser comer alguma coisa, pega biscoito aí no armário, Você sabe onde tem.

- Posso comer qualquer coisa?

- Claro. – respondi inocentemente, esse era o motivo do Victor me chamar de inocente. E ele tem razão em dizer isso.

- Então eu espero você sair... risos!

- Pára Victor, deixa de ser bobo pô. Tô falando sério. Come aí... tem suco na geladeira também.

- Eu também tô falando sério... risos.

Até que ele foi até ao banheiro. Naquele momento eu realmente pensei que o melhor dia da minha vida poderia acontecer. Mas e se fosse somente brincadeira, né? Mas isso, eu sá saberia se olhasse em seus olhos. Afinal, eu sou um pouco sedutor. Qualquer um que deseje, pode ser... inclusive o Victor.

- Ai Vic, sá tu mesmo pra me fazer rir... – falei olhando em seus olhos através do espelho em minha frente.

- Que isso, cê sabe que eu estou aqui pro que vier e pro que Der... risos – com isso ele passou a mão em minha bunda, como o de costume em nossas brincadeiras. Temos muita intimidade um com o outro.

Sá que para testar seu comportamento, ao invés de reclamar e procurar retribuir, eu o olhei profundamente. Vic também olhou pra mim, agora mais sério. Resolvi me virar pra ele. Quando me virei, ele vinha em minha direção. Parecia ser um movimento lento, mas em questão de segundos, eu pude sentir sua respiração perto de meu rosto. Ele sorriu. Sorriu lindamente com um beijo estampado em seus lábios. Senti que Victor tinha o mesmo desejo que Eu. O calor daquele dia finalmente se fazia presente em meu corpo. Então realizei que minha primeira vez com um homem, poderia ser com o Vic, meu melhor amigo... o cara em quem eu mais confiava na vida. Um cara saudável, lindo e inteligente, que gostava de mim... tava tudo perfeito...

Olhei para ele.

- O que foi Victor? Você está me assustando, o que é isso? – Vi em seus olhos a dor da perda. Naquele momento, Vic deve ter se sentido o pior dos seres, alguém cujo erro poderia ter custado seu melhor amigo...

- Desculpa Cara, eu não quis... – eu o interrompi.

- Eu quis dizer que isto estava me assustando... – dei um belo sorriso e pus a mão em seu pau, bem de leve, o abracei forte, pude sentir seu corpo junto ao meu e com a cabeça em seu peito, disse – eu estou me sentindo muito sozinho ultimamente... você não acha que eu sou um cara de sorte?

Ele abriu aquele lindo sorriso novamente.

- Acho, acho que temos muita sorte mesmo!

E me beijou, interminavelmente, para minha felicidade. Para nossa felicidade. Eu queria chorar... de felicidade, de prazer, sei lá de quê. Mas precisava sorrir.



Continua...