Era ele.
Pude sentir no olhar, na forma que me olhou nos olhos. Que olhos! Verde ou azuis? Não sei, eram claros.
Ai Deus chegou o momento, ele veio, veio mesmo. Estava um tanto incrédula. Mas a situação estava ali na minha frente, se desenvolvendo. Tarde demais pra fugir, fingir que não era eu, que não era comigo.
Respirei fundo, o frio na barriga que se danasse.
_ Oi.
_ Oi, tudo bem?
_ Sim, tudo e com você?
_ Bem.
_ Que bom.
_ É.
Que situação constrangedora. Rosto e corpo bonito, pensei. Tentando manter um sorriso simpático nos lábios, o olhar atento. Observando, procurando descobrir o máximo possível da pessoa a minha frente.
Músculos salientes, não forte demais, apenas delineados. Dava pra ver mesmo por cima da camisa, dependendo do movimento ou mesmo da respiração. As pernas pareciam seguir o resto do corpo, firme. Ele devia ser durinho ao toque. Não era alto. Não exageradamente, talvez uns 19 ou 19 centímetros maior que eu, mas o salto que usava atenuava essa diferença.
O semblante merecia mais atenção. Aqueles olhos. Inquietavam-me um pouco. Olhar firme. Não sei se era apenas sério, ou tinha um toque de timidez. Com certeza me observava também. Olhei fundo, abertamente, tentei não piscar. Esperei. Acho que se deu por satisfeito.
Comentou algo sobre o local onde estávamos. Concordei e expus meu ponto de vista. Falamos algumas banalidades. Para, digamos, “conhecer o terreno”, saber o que esperar.
Até agora nenhum sorriso nos lábios, falava baixo. Toda aquela postura séria me deixava desconcertada. Eu ria, tentava fazê-lo sorrir. Nada.
O silêncio veio sereno. Sá olhares. Medindo, observando, sondando. De repente a proposta:
_ Você quer ir ao motel comigo agora?
Meu queixo deve ter caído um pouco, fui pega de surpresa. Não que eu achasse que ele me convidaria pra uma capela. Apenas não esperava aquela frase, assim, tão súbita.
_Motel?
_É. Motel!
_Bem...
Tentava ganhar tempo, pesar os prás e os contras. Rápido. A decisão nem bem foi formulada e veio o ultimato.
_Sim ou não?
Ouço minha prápria respiração. Inspiro profundamente. O ar se esvaindo aos pouco do pulmão. Uma urgência quase irresistível.
_Tem certeza que isso o que realmente quer?
_Tenho.
_Então está bem. Vamos.
Pela primeira vez um lampejo de riso, mas foi ligeiro. Sumiu.
_Meu carro está no estacionamento, te espero lá.
Passou-me a coordenada, deu as costas e se foi. Ainda fiquei um momento sentada.Olhando.
_Bumbum bonitinho. Falei baixinho pra mim.
Um balanço leve de cabeça, muito bem, decisão tomada. Agora é agir, um pé depois o outro. Pronto. O carro.
Parada de frente, nos encaramos. Um diálogo mudo. Conversa sem palavras. Deu a volta no carro segurando meu cotovelo, abriu a porta. Que surpresa, ele era cavalheiro. Agradável surpresa. Voltou. Entrou no veículo, não acionou o motor. Ficou ali parado, com as mãos no volante, olhando pra frente, vendo o nada.
Novamente os olhos me procuram, me interrogam silenciosamente. Sinto a dúvida me assaltar. Seria aquilo que ele queria, ou estava fazendo para que eu não duvidasse da sua masculinidade?
_Tem mesmo certeza que quer ir pra um motel? Não me parece muito à vontade.
_Quero sim, sem dúvidas.
_Então é o que? O que te perturba? Consciência pesada?
Nisso nossos olhos recaem sobre a aliança. Ora na dele, ora na minha.
Sem mais, liga o carro e vai. Escolhe a suíte, pega a chave e entra. Volta, abre o carro e me ajuda a sair. Estamos ambos parados na garagem. Privacidade total.
Durante todo o caminho e até agora nenhum som. Nenhuma palavra, nada. Vem pra perto de mim, me abraça. Dá um beijo rápido. Vai me conduzindo pra dentro do quarto.
Lá dentro fecha a porta a chave, dá uma volta pelo quarto. Olhar crítico, inspecionando tudo. Não chega perto de mim, eu fico parada olhando esperando uma reação. Ele caminha pra mim, encosta o corpo no meu, passa os braços na minha cintura, nossos rostos na mesma altura, eu não me movo. Beija meu rosto, os lábios de leve. Então me solta e dá um passo atrás. Sempre o sigo com os olhos, nunca o evito.
_ Seu olhar...
_ O que tem?
_ Você olha dentro dos olhos da gente.
_ E?
_ Nada.
Bom saber que não sou a única a estar perturbada por um certo par de olhos. Os dele parecem quere fugir certos momentos.
Começa a tirar a camisa coloca sobre a mesa, dobrada. Desabotoa o cinto, a calça. Senta na cama e tira os sapatos, meias brancas... Branquinhas.
Ainda continuo de pé observando tudo. Ele deita na cama, coloca dois travesseiros debaixo de si, fica meio sentado, meio deitado no centro. Então me encara. Espera uma decisão minha. Chegou a hora.
_Independência ou morte! Que é isso, que pensamento absurdo. Tem certos instantes que não sei por que penso coisas tão desconexas com a realidade, tão fora do contexto.
Coloquei os áculos sobre a bolsa. Arrumei a camisa dele, acho que mais por curiosidade que por necessidade. Tirei a blusa, a calça. Fiquei seminua, de sandálias. Estava sexy ou ridícula? Melhor sexy, decidi. Caminhei até a cama, tirei as sandálias. Subi e me aconcheguei nele. Ele tinha pelos no tárax, não muitos, mas o suficiente. Como previ o corpo era firme, estava quente.
Comecei fazendo chamegos, sempre olhando nos olhos, ou onde a mão estava. Ele tinha um corpo bonito. Mais até que eu esperava.
_Você é vaidoso?
_Gosto de me cuidar.
_Que bom, eu também gosto de você se cuidando.
Ambos sorriem. Ele devia rir mais vezes. Como seria a gargalhada dele? Ele não é muito expansivo.
Os carinhos continuam, mãos e pele. Ele fica acariciando os meus cabelos e costas. Aproximo-me para um beijo, de novo o beijo rápido, mais profundo um pouco, mas rápido.
Que droga, gosto de beijo, muito beijo. Já que ele não beija, beijo eu. Comecei beijando-o no rosto, no queixo, na orelha, atrás da orelha, no pescoço em todo lugar que imaginei dar prazer, as mãos percorrendo o abdômen.
_ Você é sempre assim tão sisudo?
Como resposta apenas resmungos misturados com gemidos leves. Como um gato ronronando. Imaginei que ele devia estar gostando. Coloquei meu corpo, o tronco sobre ele. Entrei no meio de suas pernas e arrebitando o bumbum fui descendo, dando beijos e lambidas. Notei os mamilos intumescidos, a pele em volta meio arrepiada. Aproveitei. Passei a ponta da língua, mordi de leve enquanto passava as unhas na lateral do corpo.
Ele parado, sentido, passivo de meus carinhos. Algumas vezes levantava a cabeça. Tenho pra mim que ele via uma mulher que tentava dar prazer, fazê-lo gemer, uma mulher que queria arrancar dele aquele jeito lacônico. Eu queria fazê-lo sair do trilho, descontrolá-lo, aquele jeito dele me irritava um pouco.
Cheguei na cintura. Abri o zíper, puxei as pernas da calça, ela deslizou. Fiz alguns movimentos e pronto, uma peça a menos. Que volume! A cueca combinava com as meias. Ele ainda estava de meias. Tirei-as. Não queria fazer sexo com um homem nu e de meias.
Apertei-lhe as coxas, arranhei de leve. Comecei a desenhar sobre o pano branco da cueca o contorno do volume que ele exibia. Passei a unha, a ponta dos dedos. Hora de ser um pouco má, chega de ser doce e boazinha. Apertei. Não pra machucar, mas pra apimentar um pouco. Arranquei a cueca. Pronto. Nu em pêlo. Meu olhar devia estar brilhando ao observá-lo. Corri cada pedaço do corpo; testa, olhos, nariz, boca, queixo, pescoço, tárax, o membro, as pernas, enfim os pés. Ele não parava de me olhar, dei um meio sorriso, que esperava ser bem sacana.
_ Gostou?
_ Parece bom.
_ Parece?
_ É, tenho que experimentar pra dar o aval final.
Queria sentir aquela boca, meu beijo queria aqueles lábios, a língua. Avancei sobre ele e estendi meu corpo, pressionando com meus seios macios e fartos. Enfim um beijo de verdade. Novamente o olhar. Interrogação.
Nesse momento ele me derruba na cama e me faz assumir o lugar que antes era dele. Recebi beijos e aquela língua danada no corpo todo. Primeiro ele me degustou o rosto, lambeu as bochechas, deu pequenos beijos estalados. Depois foi direto ao interior das coxas. Ah! Agora eu gemi, estava bom. Virou-me de bruços, com a ponta da língua úmida escorregou pela minha espinha, no bumbum recebi uma mordida. Por essa não esperava. Doeu um pouquinho, mas não ficou marcado. Acho que ele leu meus pensamentos, passou a me apertar toda, juntava tantos de pele e apertava. Deitou-se sobre mim e pediu um favor, com voz rouca. Falando tão práximo ao meu ouvido que podia sentir o bafo quente me arrepiando. Irresistível.
_ Tenho a fantasia de fazer anal gostoso com uma mulher, ou de ejacular na boca dela.
_ Não gosto de nenhuma das duas opções. Mas para não dizer que não quero te dar prazer escolha uma.
_ Você tem uma boca muito gostosa.
_ Decidido.
Assumi novamente a posição de domínio. De cácoras no meio das pernas dele, com as duas mãos segurei firmemente o membro rijo. Não olhava pra ele apenas pro rosto de seu dono. Passei os seios nele, fiquei um tempo brincando com ele na pontinha dos meus seios. Também queria minha parte. O meu prazer. O masturbei com os seios. Depois a mão novamente, molhava os dedos na boca e passava no pênis, lambia a mão e esfregava nele.
Aproximei o rosto, olhos fixos. Bati com ele nas bochechas. Lambi a base, ele deu um pulinho. Subi até a ponta. Circundei toda glande. Abocanhei. Ele gemeu. Mesmo com a boca cheia do sexo, olhei pra ele e dei um ar de riso. Coloquei o pênis na boca até onde deu. Ele envergou o corpo se oferecendo. Aceitei. Repetidas vezes eu o fiz entrar e sair da boca. Coloquei a mão dele sobre minha cabeça, ele aproveitou fechou a mão e me segurou pelos cabelos, forçando os movimentos, deixando-os mais acelerados, eu ouvi o som da respiração, tudo indicava que ele estava práximo do gozo.
Empolguei-me, ele já não estava mais tão controlado, eu o mantinha agitado e quente. Aumentou a pressão nos meus cabelos, eu suava, ele também. Ambas as mãos em mim. Gemidos, ele grunhia. A hora H é agora. Veio. Quente, forte. O cheiro de sêmen não é dos melhores, o gosto então, sem comentários. Mas eu tinha me disposto, abri a boca e recebi a ejaculação. Deixei a boca na glande, o líquido espesso escorria pelo pênis, forcei um pouco para que quase nada ficasse na minha boca. Levantei o rosto, ele tava cansado, mas com semblante satisfeito. Os olhos mais verdes. A face afogueada.
Ficou olhando pra minha boca. Estava um pouco babada. Que tal a menina má assumir novamente? Um pensamento de vingança. Do jeito que estava dei nele um beijo na boca. Tentou resistir, mas forcei a língua e ele provou do práprio gosto. Enfim deixei-o me afastar. Limpei-me com a fronha do travesseiro, joguei o lençol sobre ele e fui pro banheiro.
Estava na pia me lavando quando ele entrou, nu, andar elegante. Foi pro chuveiro. Tomou banho sem sabonete.
_Medo de sua mulher sentir o cheiro de sabonete diferente?
_Melhor não arriscar, não é?
_É.
_Por que me beijou com a boca cheia de sêmen?
_Me deu vontade. Sentiu seu gosto?
_Não gostei muito.
_Nem eu. Sorri. Foi bom?
_Sim, você tem uma boca!
Dei um sorriso de agradecimento pelo elogio e sai do banheiro. Quando ele chegou no quarto já estava vestida. Ele se vestiu e me chamou para irmos. Aproximei-me pro beijo final, ele de novo pareceu evitar minha boca.
_ O que foi? Já não tem mais seu gosto nos meus lábios.
_ Não é isso. É seu olhar, ele é profundo demais, tenho receio de que nos envolvamos, de que você se apaixone.
_ Não se preocupe, sou grandinha e sei me cuidar. Além de ambos termos nossas vidas estruturadas. Não quero complicações.
Nesse instante entendi o porque de ele “fugir” dos meus beijos. Aproximei-me novamente, dei um beijo que foi correspondido e um riso solto.
Fomos embora, ele me deixou onde nos encontramos.
_Nos falamos depois?
_Tudo bem. Boa noite.
Não esperei resposta, saí do carro e caminhei, ouvi que demorou um pouco pra ir embora.
Contudo me deixou com um sorriso nos lábios, os cabelos meio desgrenhados, um gosto de quero mais. E uma frustração de não tê-lo tido dentro de mim.
Tudo há seu tempo. Ele será meu, com todos os beijos que gosto.