Encantado
Ao chegar ao ponto de ônibus, lá estava ela. Sustada, seus lábios proferiam versos meládicos.
Lábios belos, os mais lindos que já vi! O magnetismo deles puxava-me para o seu encontro. Sedento, cheguei estar quase ao seu lado.
“...Já tentei tirar você do coração
Desisti não consegui
O que é que eu vou fazer
Gosto de você...
...O que é que eu vou fazer
Não vou te perder...
...Meu amor
Te quero do meu lado
Meu amor
Estou apaixonado
Quero te dizer
Como é bom te ver
Você é como um sonho
Que preciso pra viver...”
Um rugir, meu aceno, minha admiração e um ato de cavalheirismo.
Seus pensamentos se mantinham avante em cenas paradas que corriam através das janelas.
Vestido comprido, solto, confortável, gostoso! Em tons marrons compunham diversas gravuras; que mostravam um pouco da cultura e fascinação da Índia, do Egito e da Ãfrica. Traços fortes em contraste com a sua feminilidade.
O tecido era de textura fina, onde transpunha a maciez de cada movimento seu.
Naquela formosura os mamilos salientavam e os seios em parcial transpareciam. Pois no jogo das cores, conseguia tapear sua total nitidez.
Em sua bolsa havia um desenho pequeno com o subscrito signo. Percebi que ela era um parâmetro literal, real e absoluto dele. Selvagem e animalesca demonstrava que antes, durante e depois; cheirava, pensava, sentia e queria como ele.
O transporte parava, a porta abria, fechava e depois prosseguia. Nestes verbos o vento fazia alvoroço em seu vestido, que conseguia ser mais leve que ele práprio. Tocava-lhe os pés, as coxas, o colo, os seios e evacuava incandescentemente no balançar dos fios de seu cabelo.
Cabelos compridos, castanhos escuros, repicados e deslumbrantes. Ao toque, qualquer um entorpecia em anseios arfantes.
Eu estava em êxtase com minuciosos minutos.
Seus olhos ternos perambulavam, por vezes refletiam e erguidos seduziam!
Olhar ardente, perigoso de se olhar! Derrubadores do sexo oposto!
Uma Medusa, que no olhar transformava homens em vassalos de suas vontades. Entorpecendo-os de ardências culminantes.
Tentadores e pecaminosos! Olhos que demonstravam estar famintos! Famintos de gustar, de mordiscar, de possuir e famintos de fazer o mundo todo se perder...
Misteriosa, emanava uma fragrância que envolvia cada sentir e respirar! Esta conduziu o sangue para o corpo cavernoso e esponjoso dos homens ao seu redor.
O tempo, sem existência, deixou espaço para as vontades. Vontades que se fizeram ao ponto de deixar regiões umedecidas de gozo!
Entre suas pernas parecia que algo escorria até os pés. Isto fazia aumentava o meu fervor, fazendo-me estremecer em lamúrias silenciosas. O que ela pensava naquele momento? Será que sabia que era desejada por mim e mais três?
Minha mente fluiu e a cada movimento seu, eu compartilhava em gemidos desandados.
A minha matéria erétil se tornava cada vez mais ágil em meio aqueles instantes.
Sem controle, juntamente com o feitici, alguns membros e seus membros caminharam em sua direção e iniciavam um atrito. Um em suas nádegas, dois em sua coxa direita e três em sua coxa esquerda. Todos desejando ser sugados por sua boca entreaberta.
Despercebidos pela lotação, faziam fricção com o balançar súbitos ou não daquela condução. Em paradas e viradas se harmonizavam na cumplicidade de olhares úmidos e avermelhados. No contorno de suas respirações ofegantes, eram devorados por aquele olor sexual. Na ação conjunta se uniam pela força brutal do sexo animal.
Eles se encontravam entorpecidos no ambiente rarefeito. E o alívio sá veio segundos depois deixando-os encharcados de satisfação.
O deslize sutil, o sinal, a parada, a sua descida... A descida!!!
Percebi que já fazia parte do passado os minutos que me tornou seu servo.
Fui um homem observador, ardente e admirado. Admirador de sua sedução, invisíveis para os homens corriqueiros e preconceituosos.
Os versos, os olhos daquele olhar, o vestido, aquele cheiro, os toques...
Pude sentir o orgasmo no olhar do seu pensamento.
Estive ao seu lado, por vinte minutos... E agora ela se vai, com a escolta do meu olhar.
O ar em movimento penetrava as fibras daquele tecido, beijando-lhe toda a pele.
Vi o vestido se transformar em folha seca! E os raios do Sol mostrar o que tinha por trás de sua transparência.
Suspirei em seu distanciar e lembrando de sua canção... fiquei... encantado...
“...Já tentei tirar você do coração
Desisti não consegui
O que é que eu vou fazer
Gosto de você...”
Letícia Luccheze.
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