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DO CÉU AO INFERNO

Nanda não aguentava mais os pais dizendo que precisava fazer um concurso público. Havia se formado em jornalismo no final do ano passado, estava trabalhando com um contrato temporário de repárter na redação da Assessoria de Comunicação do Governo do Estado de Minas Gerais e achava que era um bom começo de carreira. Cobria a agenda do governador e secretários e seu chefe gostava do seu texto, dizia que ela logo chegaria a redatora, ou mesmo assumiria a assessoria de uma das secretarias. “Mas você não tem estabilidade, pode ser mandada embora a qualquer momento, é sá mudar o grupo político”, repetia o pai. “Depois vai acabar dependendo de um marido, isso se não se casar com aquele acomodado do Jorge, que não ganha nem para o sustento”, alfinetava a mãe, embora o patrimônio da família fosse suficiente para sustentar até seus netos.



Na realidade, o que eles queriam é que ela, 27 anos, filha única, tivesse terminado o curso de Direito, abandonado no sexto semestre. Essa sim, a grande decepção do pai, dr. Souza, advogado famoso, procurador de bancos e grandes grupos empresariais, prestes a ser indicado desembargador do Tribunal de Justiça pelo terço constitucional. Para piorar, a família não aprovava o namoro da moça com o filho do ex-sácio do escritário, que também estava se formando em Direito. O rapaz chegou a fazer estágio no então Souza & Silva Advogados Associados, mas, em apenas dois meses, perdeu o prazo em um processo importante, o que provocou a dissolução da sociedade. Acabou se tornando vendedor em uma boutique de grife no BH Shopping e estava concluindo a faculdade com dois anos de atraso, sem saber a diferença entre Embargos Declaratários e Embargos Infringentes.



Na noite anterior, um domingo, ela e Jorge haviam terminado o romance. Haveria um concurso, com uma vaga para jornalista da Petrobrás em Minas Gerais. O salário inicial era de R$ 2,5 mil mais benefícios e seu pai andava o dia inteiro atrás dela com o edital nas mãos. Nanda comentou com o namorado. Ele, para provocar, concordou com o dr. Silva e disse que ela deveria sair do trabalho e dedicar-se a estudar para as provas. Foi a gota dÂ’água. Por que ele fazia isso? Sua personalidade forte e a TPM deixaram o namorado falando sozinho e sem dinheiro para pagar o self-service de comida japonesa. Nanda chegou em casa, arrumou a mochila, pegou seu violão, sua barraca igloo, roupas de inverno e partiu para a Serra do Cipá. “Amanhã ligo para a secretaria e explico para o Gilberto que precisei viajar”. No caminho para Lagoa Santa, parou em uma loja de conveniências e comprou o que faltava. Uma garrafa de brandy Macieira, um isqueiro, biscoito de aveia com mel, leite longa vida, barras de chocolate e de cereais, água mineral e pilhas.



Conhecia bem a estrada e a trilha para a queda dÂ’água do Gavião. Em cerca de uma hora chegava à serra do Cipá. Mais alguns quilômetros e estava práxima ao bar de um conhecido, que sá abria nos fins de semana. Estacionou o carro e embrenhou-se no mato, munida de uma lanterna, naquela noite fria de inverno. Depois de mais de uma hora e meia de caminhada, já era alta madrugada quando chegou ao ponto onde pretendia acampar. Fez uma fogueira e montou a barraca em cinco minutos. Com a percussão da cachoeira invisível na escuridão e apesar dos dedos endurecidos pelo frio, tocou Legião Urbana, Há Tempos, Nando Reis, Segundo Sol, e Stairway to Heaven e Dyer Maker, do Led Zeppelin. A garrafa de conhaque já passava da metade. Lembrou-se do ex-namorado. “Ele se parece com o Robert Plant, com cabelos longos e dourados”, pensou. Riu ao se lembrar de que ele, exático, usava até roupas semelhantes às do cantor, anos setenta, apenas não era tão afeminado.



Quando Nanda foi dormir, já notava o céu começando a clarear. Acostumada a dormir pouco, acordou ali pelas nove horas. Bebeu um copo de leite, comeu alguns biscoitos e uma barra de cereais. Olhou para o céu azul do inverno mineiro, sem uma nuvem, caminhou até a beirada do rio e ficou observando a cachoeira. “Que lugar maravilhoso, um verdadeiro paraíso”, pensou. Testou a água com os pés, sentindo seu corpo se arrepiar. Como era uma segunda-feira, ela sabia que era quase impossível que aparecesse alguém e tirou a blusa, ficando somente de calcinha. Sentiu a brisa fria da manhã envolvendo seu corpo, enrijecendo seus mamilos, o sol ainda tímido, entre as árvores, começando a esquentar sua pele. Ouviu o canto dos pássaros, o barulho da queda dÂ’água e foi entrando no rio. Pisou com cuidado nas pedras, sentindo a correnteza em seus tornozelos, subindo por suas pernas, alcançando seu ventre, fazendo sua barriga se contrair e a respiração ficar ofegante. Deu um mergulho e nadou até o meio do rio, onde havia uma grande laje de pedra.



Sobre a rocha, desembaraçou seus longos cabelos castanhos. Reparou que as gotas de água escorriam brilhando ao sol, como diamantes rolando por seu corpo. Lembrou-se de Jorge e pensou se o fim do romance seria definitivo ou se reatariam, como já acontecera mais de uma vez. A lembrança do namorado e um vento mais frio fizeram-na se arrepiar novamente. Passou as mãos pelo corpo para retirar a água e, ao tocar os seios, reparou como estavam intumescidos. Brincou com seus mamilos, sentindo que o sol também começava a esquentar, e acariciou seu sexo, já bastante excitada. Passou os dedos por toda a sua extensão, parando para brincar com o clitáris.



Pensava então nos momentos que vivera ali, naquela cachoeira, com o namorado. Embora fosse completamente irresponsável, ele era o melhor amante que ela já conhecera. Carinhoso, sabia exatamente onde e como tocá-la. Sabia provocá-la, deixá-la pronta para recebê-lo. Como ela, Jorge gostava de fazer sexo ao ar livre. Lembrou da vez, no último verão, que haviam namorado de madrugada, naquela mesma pedra, os amigos dormindo nas barracas. O barulho da queda dÂ’água dava liberdade para que os sons do prazer escapassem compulsivamente e o risco de serem descobertos os deixava ainda mais excitados. Ela imaginava que seus dedos eram os lábios do namorado, passeando com desenvoltura por todo o seu corpo, deixando seu sexo em brasa, quando reparou que havia alguém a observando atrás de uma árvore.



De imediato reconheceu os cabelos longos e dourados de Jorge. “Meus pais devem ter me visto sair de noite e ligado para ele, que veio atrás de mim pela manhã”, pensou. Então, fingiu que não o havia visto e continuou a se masturbar, agora com o objetivo de provocá-lo. Acariciava seus práprios seios, beijava seus mamilos, jogava a cabeça para trás, prendendo o clitáris entre os dedos, já livre da calcinha. No meio dessa brincadeira, olhou nos olhos do ex-namorado, ainda escondido atrás da árvore, e deu uma risadinha. Ele desceu até a beirada do rio, tirou a mochila das costas e pulou na água de roupa e tudo, nadando até a pedra e parando para observá-la mais de perto.



Jorge sempre ficava maravilhado ao ver Nanda nua. Seus seios médios e quase sem a marquinha do biquíni, devido ao bronze de inverno, eram perfeitos. Seu sexo, depilado, mantinha apenas uma pequena linha de pelos lisos. O corpo, modelado em academia, curvilíneo, típico da mulher brasileira, digno de ser fotografado por JR. Duran, poderia aparecer em qualquer revista masculina com garantia de sucesso absoluto. Da água, ele começou a beijar os pés da namorada, massagear suas pernas, subindo para a barriga, brincando com o umbigo. Beijou seu pescoço, sua boca, seus seios, cada centímetro de suas costas, deixando a região pubiana por último. Com a língua, desceu do clitáris às nádegas, entre as quais parou por alguns instantes, subindo novamente, pressionando a vagina como se fosse penetrá-la, dividindo seu sexo ao meio, até chegar ao clitáris novamente, prendendo-o com a ponta dos lábios, sugando delicadamente.



Nanda então arrancou a roupa de Jorge e jogou no rio. A blusa agarrou-se em uma pedra, mas a calça desceu e sumiu correnteza abaixo. Ela deitou o namorado na pedra, posicionando sexo sobre sexo, e começou a se masturbar com o membro do rapaz, esfregando-o em seu clitáris, colocando a glande entre os grandes lábios, mas sem deixar penetrá-la, passando os seios em seu rosto, arrancando gemidos do namorado. Puxou Jorge para baixo da queda dÂ’água, passou os braços em seu pescoço, entrelaçou as pernas em sua cintura e sá então deixou o ato se consumar. Sentiu seu corpo ser tomado por movimentos involuntários, que começaram lentos e foram ficando mais intensos, suas unhas cravadas nas costas dele. Ambos sentiam o calor dos corpos contrastando com o gelo da água que caía com força, até que uma corda passou pelo pescoço de Nanda, impedindo a sua respiração e puxando-a para a margem com violência.



Jorge não teve tempo de reagir. Recebeu uma pancada na nuca e desfaleceu na água, sendo puxado e amarrado em um tronco. Quando voltou a si, viu Nanda em poder de dois homens. Um deles, louro, forte, segurava os braços de sua namorada, enquanto o outro a violentava. Não demorou muito, trocaram de posição, virando-a com a bunda para cima, e foi a vez do outro, um mulato ainda mais forte, penetra-la por trás, com violência. Ela tentou impedir, pediu pelo amor de Deus, mas um safanão a fez perder os sentidos. O terror já havia se apoderado de Jorge, que não conseguia se mover, amarrado pelas cordas e pelo medo. Terminado o estupro, os homens a imobilizaram e deitaram os dois, lado a lado. Jorge ainda sentia a cabeça zumbindo quando uma grande pedra esmagou-lhe o crânio. Depois, foi a vez de Nanda sentir a pancada fatal. Os homens vasculharam rapidamente a barraca e as mochilas, pegaram o que interessava e partiram, bebendo o resto da garrafa de brandy, deixando para trás aquele paraíso onde jaziam dois corpos nus, com o crânio esfacelado.