Calada da noite, grilos cantando, o calor infernal de sempre e nem uma alma viva andava em volta da casa grande. A exceção era a sombra daquele escravo fujão que tentava chegar sem ser notado até a sacada do quarto de Sinhá. As filhas brancas da elite fazendeira eram sempre guardadas a sete chaves. O medo de uma aventura tola com algum roceiro rústico, ou ainda com um dos jovens galanteadores que viviam à caça de ricos dotes era grande. E com a Sinhá daquela terra não era diferente.
O escravo fujão sabia que ela ainda era virgem, tal como ele, que ainda não havia tido a chance de possuir uma mulher, quanto mais uma branca tão bem guardada de olhares alheios. Com o lombo cansado de tantas chibatadas por tentativas de fuga, tudo que aquele maltratado negro queria era ir a forra com o seu senhor, descontando sua ira justamente no que sabia ser sua maior riqueza: a virgindade puritana de Sinhá.
Em movimentos agéis e silenciosos ele galgou a sacada e logo já via sua vítima enrolada em lençáis de seda na escuridão de seus aposentos. Passou pela fina cortina que protegia Sinhá das brisas frescas da noite e adentrou num mundo completamente novo para si. Já tinha o pau em riste e a louca vontade d concretizar sua vingança.
Do bolso roto de sua calça suja ele pega uma navalha improvisada. Um pedaço de ferro insistentemente amolado na pedra e fixo a um pedaço de madeira qualquer. No entanto, essa frágil arma era tudo o que ele precisava para alcançar seu mais doce anseio.
Pressentindo movimento no quarto, Sinhá levanta a cabeça e num esforço para espantar o sono tenta abrir os olhos. Antes que algum som saia de sua boca, seu algoz pula em cima dela já enconstando a faca no pescoço e coloca a outra mão em sua nuca, forçando a cabeça para frente. O encontro da pele quente com o frio do metal a coloca em estado de alerta, embora seus olhos ainda não consigam enxergar o homem que dela vai arrancar o que lhe é mais sagrado.
A formação de gotas de suor em seu rosto angelical é tão rápida quanto os movimentos de mão que o escravo agora faz para desvencilhar-se do pedaço de trapo que prende seu sexo. Sinhá então pressente o que está por acontecer e começa a se debater, embora ainda permaneça calada, sentindo a pressão da navalha contra sua carne.
O peso de um corpo estranho e a sensação de algo rijo procurando por suas coxas a assusta ainda mais, o que sá aumenta a firmeza dos movimentos dele pela busca de sexo rápido e violento. A proximidade do ato provoca fortes pulsações, tanto no pau do negro, quanto no coração de Sinhá, que agora tem plena certeza de que seu destino está selado.
A textura macia e quente do sexo feminino, até então, era algo desconhecido para este homem de tão rudes modos. A nova sensação o detém e é nesse segundo vacilante que uma brisa faz levantar a fina cortina, trazendo alguma luz para o rostos de tão inusitados amantes. Ele vê a fêmea possuída sobre seu corpo e sabe que agora já não necessita mais de seu instrumento de intimidação.
Uma navalha cai ao lado da cama, no mesmo instante em que pela primeira vez, Sinhá experimenta um macho lhe invadir o ventre, de uma sá vez, num sá ímpeto. A brisa cessa, o calor se faz presente ainda mais forte e a luz se vai. A escuridão a domina. O sexo a domina.
O medo é talvez um dos mais fortes elixires sexuais, capaz de despertar o mais profundo dos desejos. E então, uma sinfonia de sensações invade corpo e alma de uma recatada senhora da sociedade colonial escravocrata. Os papéis haviam se invertido e agora o corpo de Sinhá era propriedade de quem já lhe fora propriedade.
Uma, duas, intermináveis estocadas se apoderavam e despertavam o corpo lacrado daquela mulher, tolhida de qualquer desejo carnal. Tudo o que Sinhá conseguia fazer era gemer baixo, engolindo a seco cada investida em seu corpo até então virginal.
Nova brisa se faz presente e a luz revela mais uma vez aquele rosto de mulher, não mais atormentado, mas agora calado, observador, atento para cada nova sensação produzida por seu captor. E é nesta segunda visão que o sentimento de vingança começa a ceder, tornando estocadas, ora tão fortes e rápidas, mais fracas e serenas.
Não é o que Sinhá quer. Seu limite já foi rompido. Agora é tarde para voltar atrás e fingir que nada aconteceu. Esse homem tem que continuar, ela precisa saber como tudo isso acaba, nada mais faz sentido e seu corpo demanda por mais, muito mais.
As mãos dela agarram os braços do negro e gentilmente o empurram para avante, para voltar novamente para dentro de si. Ele, agora assustado por tal reação, parece ainda mais fraco para levar a cabo sua vingança. Ela, mais certa do que quer enfim sentir, crava suas unhas nos braços de seu homem.
O movimento de vai e vem cessa totalmente. Ele se esforça para enxergar o rosto de sua presa na escuridão do quarto e tudo o que sente é uma dor lancinante em seus braços. E então uma voz: “vem”. A surpresa do pedido o congela. Parado no tempo ele tenta entender o que sua branca quer e se esquece de sua posição de dominador.
“Mete!” Sem saber o que fazer ele obedece e nova estocada, tão forte quanto a primeira, arranca um gemido de sua doce Sinhá: “Aaah!”, seguido de uma suave jingada com seus quadris, como que querendo acompanhar a investida. E então, quadris se harmonizam e o que se segue é um profundo e consentido ato sexual.
Um pedido até então inpensado para uma jovem tão recatada e púdica se torna no ato mais amoral de sua vida, bem como o mais intenso. Ele se sente cada vez mais envergonhado e, num ato desesperado de redenção, acaracia seus seios rosados, como que pedisse por perdão.
Não é o que ela quer. A puta que havia em si agora está solta e com medo de perder um macho tão viril, ela tenta se virar na cama. Sem saber o que está por vir, ele aceita passivamente e descola seu corpo suado do dela. Assumindo uma nova posição totalmente inédita para os dois e seguindo apenas os instintos Sinhá lhe oferece o rabo, batendo com uma das mãos sobre suas ancas.
Ele, afoito por tamanha provocação, lhe invade por trás, depois de muito morder e lamber tudo o que lhe é ofertado. Dá-se início então ao sexo mais selvagem vivido por estas duas almas, que até então, desconheciam tais prazeres. Os dois gozam entre urros e arranhões, mordidas e tapas, despreocupados do mundo moralista que os espera lá fora.
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