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SEDUÇÃO NA BIBLIOTECA

Era um desses homens de aparência fechada, cabelos pretos de um corte curto, jogados pra frente, trajando jeans, dos pés ao chão. Tinha uma espessa barba por fazer, que lhe deixava com um semblante de poucos amigos. Pouco menos de 1,80 com um peso bem distribuído e um porte ligeiramente atlético. Por causa do dia ensolarado, ou para não ser reconhecido, usava um áculos escuros. As mãos balançavam juntas ao corpo, pra frente e pra trás e na da direita, podia-se ver um livro preto.



Mantinha passadas longas e firmes, rumo ao prédio da faculdade. Seguia pela calçada direita, rente ao muro das casas daquela rua. Seguiu pelo acesso da garagem e subiu para o andar da biblioteca. Ao entrar, foi rente ao encontro da primeira mesa vaga, com ares de quem já é íntimo da sala. Ali sentou-se, abriu seu livro e começou a ler, sem olhar para os lados.



O estranho, aparentemente entretido em sua leitura, estava sentado de frente para a entrada. Dissimuladamente, espreitava para todos os que adentravam o recinto por sobre o livro preto de título vermelho, inlegível à distância. Então, como já lhe era certo, avistou quem procurava: uma jovem que trabalhava ali e que chegava para o serviço.



Como já era de costume, ele observou os rotineiros rituais de chegada daquela bela mulher. A seguia com os olhos em cada movimento, do cumprimentar a colega de trabalho à mexer em sua bolsa. No momento propício ele se levantou e foi até o balcão, sempre fitando-a. Sem dizer nada, manteve seu olhar fixo nela por alguns instantes. Ao pressentir que era observada, ela virou-se e pôde ver quem a encarava.

Tendo agora a atenção da jovem, ele coloca o livro sobre o balcão, com a capa virada para ela e, num tom de voz quase inaudível, lhe diz por favor, como quem está prestes a fazer um pedido. Ela, fôsse para escutá-lo melhor, ou por estar presa naquele ohar penetrante, se aproxima do balcão. Antes que ela possa lhe dirigir a palavra, o estranho, ainda em tom suave, estranhamente contrastante com sua aparência sisuda, lhe pede papel e caneta, pois teve uma átima idéia e precisa fazer algumas anotações.



Ao ver o sorriso que se fez num pedido tão simples, a jovem, prontamente, se abaixa para pegar o que lhe foi pedido. Ao levantar e de relance, vislumbra a capa do livro a sua frente: “Contos Eráticos”. Ligeiramente ruborecida, o que era fácil de se notar por ser uma mulher de pele bem alva, ela entrega papel e caneta, evitando de cruzar, uma vez mais, seu olhar com o daquele homem.



Tendo agradecido a gentileza ele volta a sentar, no entanto, em outra mesa, numa cadeira de frente para o balcão. Horas se passam e ele se reveza entre observá-la e fazer anotações. Seus olhares se esbarram inúmeras vezes, o que a faz sentir uma apreensão crescente e, ao mesmo tempo, uma curiosidade inquietante. Apesar da insistência daquele homem, ela não se sente vigiada, do contrário, experimenta uma sensação de bem estar. Lhe dá prazer sentir aquela pessoa a admirando com um olhar de desejo.



Enquanto ele escreve, ela se flagra reparando no desenho de seus lábios e no bronzeado de sua pele. Aquele desconhecido de certa forma a instiga. Sua curiosidade estimulada a faz imaginar o que ele estaria escrevendo. Ela percebe o jogo erático que se desenvolve a sua frente e se sente cada vez mais excitada por saber que é a protagonista, o alvo de um estranho sedutor.



Ao cair da tarde, ela deixa a biblioteca para pegar livros em outra sala. Quando retorna, se surpreende ao não ver mais aquele homem de barba cerrada que tanto a observara. Sobre a mesa, algumas folhas de papel rabiscado e uma caneta.



Sem exitar, ela se senta na mesma cadeira. Sente a fragrância daquele estranho que estivera ali minutos antes. Apás respirar fundo, se depara com as anotações. Uma caligrafia pequena e inclinada para a frente, lhe revela um texto, tão ou mais erático que a situação pela qual passava naquele dia.



No conto, uma jovem era seduzida por um estranho, dentro de uma biblioteca de faculdade. Um jogo de olhares revelava o tesão mútuo dos dois e de como o estranho se encontrava excitado, sentado frente ao seu objeto de prazer. Por debaixo da mesa, sem que ela percebesse, ele acariciava, sobre a calça, seu membro rijo. O que lhe dava mais prazer e mantinha sua ereção por tanto tempo, era saber que aquela mulher branca e de lindos olhos verdes o observava também. A vontade recíproca era cada vez mais nítida, conforme as folhas eram preenchidas. Num arrepio, ela sentiu sua auto-estima se elevar, ao saber que provocara tal reação apenas com seu olhar.



O conto prossegue narrando a saída da bibliotecária, de como o estranho havia deixado gotas de perfume pela cadeira e da cara de espanto dela ao voltar e não vê-lo mais ali. Ela podia sentir a exatidão das palavras ao ler de como era descrito seu retorno à sala, de como percebia a fragrância masculina e pelo jeito que ela lia o texto deixado sobre a mesa.



Sentindo-se cada vez mais envolvida e com a respiração tornando-se ofegante. Ela olha para os lados, pega a última folha em sua mão e sai em direção ao grande hall da faculdade, conforme estava escrito que a jovem do conto faria.



O corredor parecia não ter mais fim. O silêncio quebrado pelo som do seu salto baixo sobre o mármore ecoava pelas salas vazias daquela ala. A respiração se acelerava. Cadeiras amontoadas e o cheiro de tinta a lembravam que ela estava entrando numa área em reforma e que, pelo horário, estava vazia, sem pintores, alunos e até mesmo sem seguranças, que se mantinham do lado de fora depois do cair da noite.

Mesmo assim, ainda com a folha na mão, ela seguia reto, em direção da última sala do corredor, tal como a personagem da histária tinha feito. O que ela sentia agora, estava transcrito naquelas últimas linhas. A personagem fazia o mesmo trajeto, tinha os mesmos pensamentos e ambas, mulher fictícia e mulher real, seguiam a mesma direção. Até a menção da falta de segurança daquele setor estava ali. E aquela audácia, era exatamente o que a excitava.



Como havia lido, a porta estaria aberta. Sentiria uma brisa de ar fresco ao entrar, por causa da janela escancarada na parede oposta. E por ela também, entrava a única luz que iluminava parcialmente o ambiente. Jogando sombras sobre os quatro cantos da sala. Ao centro, uma cadeira, dessas que tem um braço para apoio de livros e cadernos.



O conto estaria perfeito se a cadeira em questão não estivesse quebrada. Pois, justamente, o apoio que a caracterizava tão bem, não estava presente na cadeira real. Ao perceber esse detalhe, ela voltou os olhos para o texto afim de se certificar de que lêra tudo certo. Teria revisado aquela última linha se não fosse pelo estrondo de um objeto de metal contra o chão de madeira. Num susto, ela levantou o rosto e viu que um apoio de cadeira tinha sido jogado ao chão, frente aos seus pés.



Em seguida, vindo de um dos cantos, uma voz masculina dizia que sem o braço da cadeira haveria mais liberdade de movimento para ela cavalgá-lo. Imediatamente apás a frase, a figura nua de um homem com barba cerrada podia ser vista vinda do canto direito, ao lado da janela.

à meia luz, ele se aproximou por trás da cadeira em passos lentos. Ela, tomada pelo tesão, repetia o caminhar, em direção a parte da frente. Tendo apenas uma cadeira separando os dois, ele colocou as mãos sobre as costas do mável e fez um gesto com a cabeça para que ela se sentasse. Sabendo que aquela era sua última chance de sair, ela virou-se de costas e...



Este é o MSN do autor: NORIODEJANEIRO@GMAIL.COM