Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são docesrnPorque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.rnNo entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vidarnE eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.rnNão te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.rnQuero sá que surjas em mim como a fé nos desesperadosrnPara que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoadarnQue ficou sobre a minha carne como nádoa do passado.rnEu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.rnTeus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.rnMas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.rnPorque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.rnPorque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.rnE eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.rnEu ficarei sá como os veleiros nos pontos silenciosos.rnMas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.rnE todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.rnSerão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.AmarrnrnQue pode uma criatura senão,rnentre criaturas, amar?rnamar e esquecer,rnamar e malamar,rnamar, desamar, amar?rnsempre, e até de olhos vidrados, amar?rnrnQue pode, pergunto, o ser amoroso,rnsozinho, em rotação universal, senãornrodar também, e amar?rnamar o que o mar traz à praia,rne o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,rné sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?rnrnAmar solenemente as palmas do deserto,rno que é entrega ou adoração expectante,rne amar o ináspito, o áspero,rnum vaso sem flor, um chão de ferro,rne o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.rnrnEste o nosso destino: amor sem conta,rndistribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,rndoação ilimitada a uma completa ingratidão,rne na concha vazia do amor a procura medrosa,rnpaciente, de mais e mais amor.rnrnAmar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossarnamar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.MANEIRA DE AMARrnO jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassáis são orgulhosos de natureza.rnEm vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para