Aviso: Alteramos a página inicial para mostrar os novos contos que foram aprovados, não deixe de enviar seu conto.

O PASTOR É GOSTOSO DEMAIS



Ele chegou para nosso bairro lidando com limitação de recursos. Ofereci-me para ajudá-lo no que fosse necessário. Descobri que ele fala inglês fluente, morou no exterior, e nosso trabalho ficou ainda melhor. A gente conversa o tempo todo, para ele não perder a fluência, e para eu recuperar o tempo perdido, pois há mais de vinte anos que não falo inglês por não ter com quem falar.

O que me deixa mais ligado nele é que uma surpresa extra nos ocorreu. Certa tarde conversávamos sobre os novos costumes, a liberdade de expressão das pessoas, o utilitarismo moderno, o sexo ilimitado dos jovens, a falta de tempo para contatos proveitosos. Pastor André, nome fictício, calmo e compreensivo, falava de modo tão natural, que me aventurei a perguntar-lhe como pode ele suportar a abstinência sexual, sendo jovem, bonito, comunicativo e, aqui sá pra nás, lindamente ruivo, cabelos cortados tipo juventude rebelde e olhos azuis. Ele me olhou profundamente, e respondeu-me com serenidade: “Tudo pode suportar o ser humano, quando há um sentido. Claro que as pessoas me atraem, claro que há uma energia sexual perpassando as relações interpessoais, mas isso não é o fundamento da minha vida”.

Insisti um pouco mais: eu avalio, pastor, o que você passou até agora, fora do país, num ambiente masculino como uma espécie de capelão. Ele continuou: “Cada pessoa tem suas angústias, suas buscas, suas certezas. Pode ser que esta realidade seja o que me faz um homem sozinho, mas feliz, assim mesmo”.

Neste momento, levantávamos para ir à cozinha tomar café. No corredor o interrompi e, frente a frente, com as mãos sobre os ombros dele, disse-lhe: eu compreendo tudo isso. Mas, por favor, você não é um homem de ferro, à prova de fogo.

Seus olhos marejaram, ele ficou em silêncio me olhando, e nos demos um abraço mais demorado que o costumeiro. Ele tomou fôlego e disse-me: “Neste momento, com você, compreendi que não sou de ferro. Pela primeira vez falo com outra pessoa de coração para coração! Eu nunca tive dúvidas a respeito da minha sexualidade, portanto não me fiz qualquer questionamento desta natureza. Mas confesso que estou abalado, positivamente em dúvida, em transe. Você não pode compreender a profundidade do que está acontecendo conosco”. Ele quis explicar um pouco mais, descer a detalhes que não eram mais necessários, mas o interrompi para outro aconchego muito expressivo que o primeiro abraço. Trememos na base. Era super verdadeiro, mas muito perigoso o que estávamos descobrindo e revelando.

Encurtando o papo: eu sou um homem maduro, posso ser pai dele. Ele é um broto cheio de juventude, energizado. Mas ambos estávamos no armário havia anos. Eu, muito mais que ele, porque ele não estava despertado para isso. Enquanto tomávamos café, perguntou-me se poderíamos manter absoluto sigilo sobre o que estava acontecendo. Respondi-lhe: “Se até hoje fui um homem casado, desejoso, mas em completo anonimato, não encontro razões para me expor, nem para expor a pessoa que, sigilosamente, passa a morar dentro do meu coração”. Não tivemos mais resistências. Demo-nos outro abraço, agora apaixonado, caímos sobre o sofá, e ficamos apertadinhos nos amando em silêncio, sem sarros.

De lá para cá, temos vencido limitações aos poucos. Ele propôs e eu aceitei, que deveríamos passar por um período de namoro, simplesmente nos permitindo apenas abraços apaixonados como aquele, e mãos dadas. Topei e foi excitante, maravilhoso. Depois ele permitiu que nos esfregássemos, mas apenas sem camisa, com peitoral desnudo. Passamos então a um tipo de amasso delicioso. Foi dificílimo pra mim, porque sou meio fissurado quando em pleno tesão.

Ele é gostosíssimo, a ponto de me enlouquecer. Embora com pouca experiência com outro macho, sempre fui muito atraído por carinhas jovens. Portanto, topei as condições dele e, mesmo assim, tem sido legal. Tenho aprendido a fazer um tipo de preliminares alongadas e cheias de extremo tesão.

Finalmente, a gente tem abandonado a roupa, ficando sá de shorts quando fazemos determinados trabalhos. Claro que eu sempre dou jeito para isso acontecer. Então nás dois acabamos coladinhos, nos dando aquele trato, pau duro com pau duro, debaixo do calção. O práximo passo tem sido que, somente quando o bicho pega, ele topa a gente terminar a sacanagem com uma punheta compartilhada, gemendo, esporrando, chorando de emoção.

Eu me derreto quando ele me olha com aqueles olhos azuis, morrendo de paixão e bambeza ao final da punheta. Mas já o estou adestrando para me dar um banho de língua, que ele já faz espontaneamente e me leva à loucura. Também não deixo de beliscar a bunda dele quando ele está de costas e dou aquela passadinha por trás.

O bote final? Ele me confessou, de modo muito despistado, que brevemente vai se deliciar sentado na minha pistola quente. Claro que este é meu modo de falar. Ele fica todo vermelho e inventa expressões dissimuladas que, em bom português, significa que a gente vai se acostumar tanto um com o outro, e, uma vez instigados pela fogueira da paixão, vamos rolar gostoso, vamos meter gostoso, vamos fundir nossos corpos da forma mais inusitada em nossas vidas.

Embora eu esteja louco para a gente dar sufocantes beijos, ele diz que, para minimizar sua neura que, de alguma forma, também é minha, gostaria que eu o comesse somente de camisinha e, até segunda ordem, não gostaria que eu insistisse em beijá-lo na boca com beijos de novela. Ele diz que morre de medo de contaminação. De certa forma, tem sido legal para ambos porque, sendo casado, eu também sou extremamente cauteloso neste sentido.

Sei que no Século XXI esta é uma histária pouco aceitável. Mas é uma histária possível. De outra forma, seria solidão apenas, seria loucura, alienação, clausura total em armários blindados. Quando estou no banho, ou mesmo repousando, minha pistola endurece e, como num “mal” sem recurso, viajo imaginando ele mamando minha rola em brasa; sentando de frente no meu colo e agasalhando a ferramenta até o talo; ou se posicionando de quatro para eu atolar-lhe a pua.

Há dias em que acho essa transação pecaminosa. Quero levar ideias sobre isso com homens religiosos de todas as denominações. Religiosos, sacerdotes e pastores. Não descarto outros amigos que também possam compartilhar suas opiniões comigo. josum.torn@yahoo.com