DUAS DE UMA VEZ

O quarto estava ligeiramente abafado. E, a cada três inexatos minutos, arejado era por um vento que inflava as cortinas. Porém, não sanava o efeito psicolágico de quentura que um abajur chromma de cúpula branca gerava. Já que a sua luz era refletida pelo verniz que cobria a porta de madeira do armário e colidia com as cândidas cortinas, que se situavam no lado oposto do aposento. Produzindo a ilusão de que as paredes oscilavam.

Ao pé da cama, sentado estava Ricardo. Que tinha a sua pele rajada por pelos. Uma textura que começava pela barba malfeita, descia pelo tárax, passava por cima da saliente barriga e se estendia pelas pernas. Todavia, ele vedava a sua nudez com uma cueca boxer preta. Sobre a qual, com a mão direita, massageava o pênis. Que, aos poucos, ficava estimulado. Quando a sua atenção foi chamada por sua esposa. Uma mulher miúda que, vestindo uma camisola de cetim bege, à porta do quarto se plantou.

- Você não ia para a academia, Daniela? – perguntou ao reparar que o tecido que a cobria se prendeu na ponta de algum pelo pubiano.

- Hoje, não. A academia está “down”. Nem a Leila anda indo.

- Sente falta dela?

- Você não sente? – questionou ao se aproximar do leito.

- Não.

- Ela liga toda “night”, não é?

- Liga.

- O Fábio falou que ela disse.

- Se você quiser, eu paro.

- Quero ficar na escuta.

- Não é nada demais.

Todavia, ela o esclareceu de que não havia “cricket” em um relacionamento entre ex-namorados. Que uma intimidade em comum não se “filing”. E uma afeição entre amigos é consequência de uma convergência em comum. Não havendo “wickedness”. Já que unidos estão apenas pelo fio do telefone. Consequentemente, pediu para que ele acionasse o “handsfree” e fizesse “audiosexo” com Leila.

- Você não precisa ouvir isso – Ricardo inda insistiu.

- Eu quero.

- Se você quiser que eu pare, eu paro.

- Eu preciso participar disso. Sá que em “look out”. Sem ela saber.

- Você que sabe – disse ao olhar para o piso de madeira.

- Tem vergonha de se expor, na minha frente?

- Não é isso.

- É o quê? Pode me dizer?

- Você tem certeza de que quer isso?

Daniela respondeu apenas com um entediante olhar. Que fazia com que seus olhos azuis-claros lhe conferissem um aspecto soturno. Não transmitindo o fato de que ela sentia a vulva ganhar peso em função de uma umidade excessiva.

Sem mais, Ricardo olhou para trás e observou o rádio relágio, que ficava sobre uma mesa de cabeceira. E viu que ele assinalava dezoito horas e cinquenta e oito minutos. Então, se levantou, desviou de Daniela e, com um passo típico de trote, do quarto saiu. Fazendo que ela ficasse embasbacada pelo impensável. E, antes que alguma ilação a confortasse, ele regressou com um pacote de Halls Extra-Forte. Que entregou a ela.

- O que é isso? – Daniela indagou.

- Você vai saber.

Doravante, ele tirou a cueca e jogou-a ao chão. Subiu na cama e se estirou como uma estrela-do-mar.

Quando o telefone tocou.

- É ela.

- Ela é bem “British” – Daniela comentou ao ver que o rádio relágio marcava dezenove horas.

Então, ao máximo, Ricardo esticou o braço esquerdo e acionou o viva voz do telefone, que ficava ao lado do rádio relágio.

- Alô – disse ele.

- Em Brasília, dezenove horas – soou por meio de um timbre aveludado. – Pronto?

- Pronto – respondeu ao reparar que Daniela testemunhava a rápida evolução do membro seu.

-Seu pau sobre fácil – Leila comentou.

Todavia, durante um depreciativo discurso sobre o falo de Ricardo, Daniela tirou a camisola, que atirou ao chão, e subiu na cama. Posicionando-se, de joelhos, entre as pernas dele.

- A Dani já deve estar chegando na academia – Leila falou.

- Ultimamente, ela fica até tarde, por lá. Chega, “umas onze”, “moída” e vai para o banho. Ela é muito dedicada.

- Então você está carente de uma atenção feminina. De uma mulher que encarne a figura acolhedora da mamãe.

Nesse momento, Daniela viu o pênis de Ricardo atingir o ápice da solidez. E, retirou uma pastilha do pacote, que jogou ao chão, desembrulhou-a do papel, ao qual deu o mesmo destino, e colocou-a na boca, assim que ouviu Leila dizer: “Vou chupar o drops e te melecar o croquete”. Quando, de acordo com a narração, fez Ricardo gemer. Pois fê-lo sentir uma ardida pressão ao redor da glande. Contornando-a e deixando-a dormente, por um instante.

- Enquanto eu me aninho no seu pinto, me fala – Leila prosseguiu –, o ginecologista da Dani é homem ou é mulher?

- Homem – respondeu ao vê-la engolir a pastilha e sentir a acidez quente da sua empapada vagina lhe beliscar o falo. Fora o fato de que os pelos da vagina parda e recém-aparada em estilo moicano, que o pinicavam, aderiam aos pentelhos seus.

- Já apostou com ele ela em uma queda de braço?

- Ainda não.

- Lembra de quando você perdeu do meu “gino”? Ele te humilhou. Te fez estourar uma espinha da cara ao te fazer fazer uma “tantada” de careta. E ele dava risada. Quando cansou, derrubou o seu braço e o pouco de dignidade que você tinha. Aí, me examinou na sua frente. E, não sei por que, você ficou meio que de lado; achando que escondia o pau duro, que sá faltava te rasgar a calça. Depois ele mandou você comprar uma cerveja e me executou. Lembra?

- Como eu poderia esquecer?

- Como “eu” poderia esquecer. Eu nunca fui tão feliz. Depois, que você leu o “O Amante Secreto”, ficou bastante ousado.

Um argumento que levou Daniela a olhar para a outra mesa de cabeceira. E ver, junto ao abajur, o tal livro. Que fora vulgarmente afamado como a “Bíblia dos Depravados”. Um livro que, devido ao desgaste, estava um pouco carcomido. Tanto que a capa preta – onde os espermatozoides acossavam um ávulo – estava marcada por filetes em que a tinta fora arrancada do papel. O que a inspirou no ato de, seguidamente, contrair e dilatar a vulva. Cada vez com mais intensidade. Impregnando o ambiente com o forte cheiro de peixe que lhe fluía da vagina. Um odor que fez ela prápria sentir náuseas. Com isso, tornando a sua ação exaustiva. Pois, quanto mais forçava, menos força tinha para empregar. E, quando a energia findou, se jogou para frente. Colando o suor da sua face na transpiração do rosto dele. Onde fungou com a ajuda da respiração de Ricardo. Mas sem se desviar do que Leila falava. E, assim, de acordo com a informação que recebia, chicoteou o quadril dele ao jogar a cintura para cima e para baixo. Sentindo a temperatura do seu corpo se elevar.

- Eu vou peidar – advertiu Leila. – Enfia o dedo no meu “mijador” e tapa o “cagador”.

Quando Ricardo marcou as nádegas pálidas da sua esposa com manjas avermelhadas ao lhe arregaçar o arroxeado rego. Então, lubrificou o dedo médio na boceta e o introduziu no cu. Entretanto, faltou gosma. Dado que Daniela se aproximou da orelha dele e sussurrou:

- Tá picando, meu “lover”.

E Ricardo retirou o dedo. Deixando, involuntariamente, uma superficial ferida, ao lado de outras cicatrizes. Que, embora fosse incômoda, Daniela ignorou, com o fim de ouvir Leila se pronunciar.

- Eu gosto da Dani. Daquele jeito dela globalizar a ignorância. Dela sá conseguir ser menos do que é. Mas ela tem um mérito: ela me faz me sentir mais mulher. Porque ela tem uma bundinha caída de dar dá. Os peitos até que poderiam ser melhores. Mas parecem os olhos de um estrábico.

- Você repara – comentou Ricardo.

- Quando estávamos nuas, no vestiário da academia, eu sá ficava de “záio”. Um dia, a travei contra o armário. Ela é fraquinha. E esfreguei na cara da franguinha o quanto você chorou quando te dei com o pé na bunda. Esfreguei na fuça dela as tetas. E mandei mamar na mamãe – momento em que Leila engasgou ao gargalhar. – Quando eu pensei que ela fosse chorar, senti uma gota quente me caindo no pé. A franguinha se melou toda.

Quando Ricardo e Daniela gozaram juntos. Sendo que, com a suavidade de uma seda, ela se soltou sobre o corpo dele; acometida por alguns espasmos. Enquanto ele tinha a impressão de que o seu pau latejava.

- Foi bom – Ricardo comentou, ao cochichar.

- “Very Good”.

- O que foi? – perguntou Leila. – Executou?

- Executei.

- “Viado”! “Filha da Puta”! Apressadinho de merda. Nunca foi macho, comigo. Por isso, te larguei. O Fábio, seu amigo, sempre dá duas sem tirar. Aquele, sim, é um homem. Aquele que executa as suas namoradas. E você não fala nada. Covarde! “Bicha”! Você não tem a metade do que ele tem. Não é a metade do que ele é. Você não é homem para o enfrentar. Ele dá duas sem tirar. Isso é para macho. Não para você. Pergunta para a Dani. Ela sabe.

- É verdade?

- “Yes”.

- O que é isso, aí? – Leila estranhou.

- Eu preciso ser sincera... Pensei em ficar “free”. E falei para ele – com pesar, Daniela confessou. – “Sorry”.

- O que essa “zinha” tá fazendo aí?!

- Sério? – perguntou Ricardo.

- Não é que eu não te ame.

- Se fodeu, “viado”! – Leila celebrou. – Até essa coitada manja do que é bom.

- Mas ele não me quis. Disse que eu sou mais desanimada do que “night” em velário. Sá me executou para marcar territário.

- Ele é tarado por cu! – Leila gritou. – Como é que ele te executou?

- No começo, ele foi um pouco “virulent”...

- Ele é assim com todas.

- Depois, me fez uma massagem anal.

- Quanto tempo?

- Duas horas. “Why”?

- Porque o Ricardo não gosta muito desse assunto.

- Não é bem assim – ele se defendeu.

Contudo, Daniela sentiu o coração dele disparar. E se ergueu para olhá-lo.

- Ele ficou “rubicund” – comentou ao vê-lo desviar o olhar.

- O pau dele está levantando?

- Nem chegou a murchar. Ficou roliço. “In my pussy”.

- Mas está endurecendo ou não está?

- “Yes, it is!” – disse Daniela sem esconder a felicidade.

- Então, aproveita, que, hoje, vai ocorrer um milagre.