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O DIÁRIO DE UM ADOLESCENTE PART 3

Eu passei a ida toda do aeroporto para a casa da minha tia calado no banco de trás do carro enquanto ela e Caio conversavam alopradamente sobre as novidades no banco da frente. Eu já não sou de falar muito e agora q não ia falar mesmo – tava muito puto com tudo aquilo. Já tinha vindo preparado pro Gustavo, meu primo, não estragar as minhas férias em Belém, mas não esperava que tivesse mais esse imbecil pra deixar o clima pior na casa da tia Stela.



Aproveitei o meu silêncio pra admirar tudo pelo qual sentia saudade na minha cidade Natal. Passei pelo colégio em q estudava, lembrando das vezes q matei aula pra ficar namorando, ou pra tomar sorvete na esquina com os amigos. Vi a Estação das Docas, um lugar com restaurantes e barzinhos à beira do rio bem foda pra passear, pra onde eu sempre ia com o pessoal pra pegar um vento e conversar.



Minhas lembranças foram interrompidas pelo barulho do freio de mão do carro. Nem tinha me tocado, mas a gente já tava dentro da garagem e os dois já desembarcavam (sou um pouco desatento, vcs já notaram).



Saí do carro e enquanto tirava a minha mala da traseira do carro, ouvi uma pessoa falando da entrada da casa:



“Ca-Caio?!” era Gustavo. Pelo jeito a presença do mineiro não era surpresa sá pra mim e parecia afetar muito mais ao meu primo.

“Surpreeesa pra vc meu filho! Caio resolveu vir conhecer Belém finalmente, não é átimo isso?” disse a tia Stela, inocentemente, sem perceber q o filho não estava nada feliz com isso.

“É-é, é sim, muito bom…” continou gaguejando Gustavo.

“Vai ajudar seus primos com as malas, vá!” ordenou tia Stela.



Gustavo se chegou do meu lado e falou um “Oi” bem seco, eu retribuí. Sabia que seria assim, mas de alguma forma eu esperava q isso tivesse mudado um pouco com o tempo. Enfim, foda-se. Caio se chegou do meu outro lado, também com a cara fechada pra mim. De canto de olho eu consegui perceber q Gustavo encarava Caio, mas ele não encarava de volta.



“Q porra é essa q tá acontecendo aquiÂ…?” pensei comigo mesmo.



RÃ! O Gustavo era afim do Caio, sá podia ser isso. Caio, por ser hetero, não retribuia e por isso o meu primo tinha raiva dele. Aquilo me deixou excitado pelo mineiro, temporariamente. Fiquei olhando pra ele, as veias pulando dos braços enquanto ele carregava as malas, meu pau endureceu dentro da cueca. Porra, agora até eu tava me irritando por ele ser hetero. Comecei a ver o suor escorrendo pelo seu rosto, não acostumado com um clima tão úmido e logo avistei o supercílio machucado. Me lembrei de tudo o q tinha acontecido no avião e broxei na horaÂ…



“Gustavo, mostre pra eles o quarto de hospedes…” ordenou tia Stela.

“Os dois vão ficar no mesmo quarto?” perguntou Gustavo espantado. ”Um deles poderia ficar dormindo comigo no meu quarto, na cama debaixo. Os dois vão ter que dormir na cama de casal no quarto de háspedes. Meio estranho isso…”

“Nada de estranho!” retrucou tia Stela. “Vocês tem algum problema com isso?” perguntou pra gente.

“Não, não”

“Claro q não, tia.” respondi. Mas tinha sim. Se pelo menos pudesse rolar algo entre a gente seria bom. Mas não, ele era um idiota e ainda era hetero. Eu sá não queria atrapalhar os planos da tia Stela e parece que o mineiro também tinha esse senso de cooperação.



Com um desgosto maior ainda do que tava antes, Gustavo ajudou a carregar as nossas malas pro quarto de háspedes. Sentindo ciúmes da gente, pode? Achava q eu ia me envolver com um cara mal educado daquelesÂ…



Depois que nás dois nos acomodamos sem nem olhar pra cara um do outro, o Gustavo entrou no quarto dizendo que a tia Stela tava chamando pro jantar. Eu sinceramente não gosto de comer assim a noite, não sinto fome, e aquele clima todo tinha realmente tirado todo o meu apetite, mas enfim, a educação fala mais alto.



Cheguei na sala de jantar e meus olhos arregalaram.



“Caraaaaaca, tia! Que foda!” exclamei, olhando a mesa cheia de coisas regionais.



Tapioca, sorvete de açaí e o açaí em si, doce, suco e sorvete de cupuaçú, tapioca, queijo do Marajá, bombons de chocolate recheado comÂ… aaah, vcs não vão entender o que é isso, precisa ser paraense pra entender. Sá sei que ela preparou uma surpresa pra matar toda a saudade q eu tinha das comidas do Pará (eu adoro comer, como muito mesmo).



“Acho q vc gostou…” falou tia Stela rindo da minha reação.

“Eu adoreei, tia!” falei metendo logo uma colher no doce de cupuaçú.

“Maaaas esta não é a única surpresa.” disse ela em tom de surpresa.

“Vai tia, conta logo!” falei super animado, mas percebi q eu era o único ali desse jeito. Vcs ainda se perguntam pq eu tenho raiva dos dois?

“Tenho passagens aqui de ônibus pra amanhã de manhã cedinho, adivinha pra oooonde!”

“FALA TIA”

“Pra Marudá!” disse tia Stela super animada.

“Aaah, MarudáÂ… q legal, tia…” falei, um pouco murcho. Nada contra Marudá, mas eu esperava algo melhorÂ…

“Ah seu bobo!” continuou ela “De lá a gente vai pegar um barquinho pra ir pra Algodoal!”

“O-QUE?!” falei.



A Ilha de Algodoal é simplesmente o lugar mais alternativo do mundo. Lá não entra carro e as ruas são feitas de areia bem branca e bem fofa. As casas são rústicas e a locomoção é ou por bicicleta ou por charretes super fodas. E o melhor de tudo: a energia elétrica é gerada por motor a áleo diesel, então eles, pra economizar, desligam a luz elétrica de toda a Ilha às 21h. As praias viram o lugar mais romântico do mundo, com um céu completamente estrelado e alguns seres q imitam as estrelas e ficam na areia piscando também. Os casais, e até os amigos, sem medo de assalto ou de qualquer coisa parecida, ficam na areia conversando, se beijando, fumando (tdo qnto é coisa) e até transando. É a maior sensação de liberdade que existe (não q eu queira me drogar, nem sou a favor).







“TIA, QUE BOM!” falei, abraçando-a espontaneamente. “Tà REALIZANDO MEU SONHO!”



Depois que quase quebrar a cadeira em que a minha tia tava (pq eu sou magrelo, mas sou alto, então eu peso muito – sem muitos detalhes), a gente começou a comer.



“Mas que porcaria é essa?” falou Caio, se referindo ao doce de cupuaçú, mas eu sabia que ele queria mesmo era me atingir. Funcionou.

Â“É um doce, seu idiota!” retruquei.

“Ei, o q é isso meninos?!” perguntou tia Stela, assustada. Se ela soubesse o q tinha rolado no aviãoÂ…

“Caraca, q nojo, cara…” disse Caio, mexendo no doce com uma colherinha.

“Vc nem provou vei, não pode falar nada…” falei. Não consigo ficar calado. Não consigo.

“Não precisa, pela aparência deve ser ruim pra cara…” foi quando eu não aguentei.



Puto, peguei a colher da mão do Caio, enchi de doce de cupuaçú e enfiei na boca dele a força. Ele ficou vermelho. Pensei que ia levar um soco e recuei na hora. Ele ficou uns segundos mastigando o doce, com os olhos lacrimejando. Logo, soltou um palavrão em alto e bom som, ignorando a presença da titia:



“Caraaaaaaaaaaalho! O q q é isso? MUITO BOM!” e caiu de boca no doce.



Não consegui segurar o riso. Ninguém conseguiu. Acho que aquele momento quebrou um pouco o gelo.



Depois de mais alguns risos e de comer muito. Todo mundo resolveu se deitar, afinal, no dia seguinte teria que acordar bem cedo pra viajar pra Algodoal. Eu e Caio fomos pro quarto, com os olhares de raiva do Gustavo, ligamos o ar condicionado e fechamos a porta.



“Pô, as comidas daqui são boas. O açaí não é igual.” comentou Caio, tirando a camisa. (FDP >>http:wp.me1bp98