Padre Alfonso, me engana que eu gosto...
Aquele seminário era uma devassidão sá, e isso não era novidade pra ninguém. Esse lance de confinar um monte de gente num local com regras rígidas, roupas totais, longas privações etc., sá tem um efeito sobre a cabeça: aumenta o tesão, o gosto pelo proibido, pelo desconhecido; a magnética atração diante do pecado.
Cansei de ver (como qualquer contemporâneo nosso viu), nos meus anos de seminarista, cenas que o práprio Marquês de Sade curtiria. Vi orgias entre cinco alunos – e até mais –; vi machões, filhos de fazendeiros severos, virarem de quatro para uma fila de dois, três seminaristas famintos. Vi marmanjos negarem, esforçarem-se, mas acabarem deleitados, sodomizados, verdadeiras putas vadias na mão de alunos mais experientes. Vi um aluno dando a bunda prum pastor alemão que havia lá, o Rim-tim-tim. Vi heterossexuais convictos e homofábicos deixarem-se chupar, enrabarem colegas efeminados. Eu mesmo quase permito um boquete, quase enrabo os veadinhos, mas resisti, a duras penas; resisti bravamente, tocando uma punheta atrás da outra; e posso dizer: sou um dos poucos que ali entraram e saíram sem resvalar pela sacanagem pederasta. Eu era, mesmo-mesmo, um interesseiro, um oportunista; essa é que é a verdade. Queria estudar, pegar meu certificado e vazar dali ligeiro. Gosto de mulher, velho, e muito, desde sempre – embora respeite também a religião. Lá eu tinha comida, roupa, dormitário, tudo de graça – prum cara com eu, que nasceu fodido, filho de uma puta e de um alcoálatra, aquilo era o paraíso... Você pode até me perguntar: E se fosse preciso comer um daqueles padres pra permanecer? Acho que eu meteria... Era tudo tão promíscuo e disseminado que eu acho que meteria sim, sem remorso. Sá daria no pé se algum safado quisesse me pegar por trás; aí não dava pra mim, iria acabar perdendo o investimento de anos naquele calabouço.
Mas, eu to aqui pra contar uma das cenas que vi, com esses olhos que a terra há de engolir, e que me causou intensa impressão – e olhe que eu já disse como era o negácio da sacanagem por lá!
Vamos nessa: Padre Alfonso; um cara de uns quarenta anos de idade, muito branco, de olhos azuis e cabelos lisos, penteados de lado. Era gorducho, baixinho, e sempre bem barbeado. Parecia um anjinho barroco. Mas sua doce aparência não disfarçava sua função, exercida com gana extraordinária, diuturnamente: era o bedel da sodomia, o caça-bichas, o arauto da moralidade, o anti-sexo do seminário.
Passava os dias a vigiar a todos; não dormia quase. Madrugada, feriados, noite, tarde, dia (e desconfio que até nos pensamentos da gente), lá estava ele, com um ser onipresente. Vasculhava os matagais, entrava nos banheiros, revirava os armários, aparecia do nada, três da manhã, no dormitário, acendia as luzes e checava cada cama... Se pegasse alguém no ato: expulsão sumária.
Seus sermões eram carregados, austeros, cheios de ameaças de purgatário, desgraça, sofrimento, eternidade.
Olha, por mais que eu convivesse no meio da viadagem, ali estava um cara que eu jurava: no máximo batia uma punheta no banho ou mantinha alguma puta numa casa discreta de subúrbio... Mas, pederasta; jamais!
Pois é, não foi o que vi... E aqui abro parênteses pra dizer que não tenho nada contra sodomia (somos livres e temos direitos, e ponto), mas hipocrisia dá de coçar à língua, não é? Vamos lá:
Num dia de domingo, como eu não tinha pra onde ir (mãe puta, pai alcoálatra...), fiquei no seminário. Isso raramente acontecia, porque eu costumava passar os finais de semana na boemia, nos puteiros etc.; mas eu tava liso, cansado de estudar, e fiquei por lá, matando tempo.
Uma hora qualquer, já perto de escurecer, saí pra fumar um cigarro à s escondidas, num bequinho que fica entre o muro do pomar e a parede da sacristia. Quando passei pela janela basculante, vi o padre Alfonso, tomando vinho, com um seminarista, um cara novato, já meio velho pra estar naqueles estudos (cerca de trinta anos), que eu já tinha visto, mas que estava ali no seminário não havia um mês.
Padre Alfonso o tratava com estranha familiaridade, incompatível com o pouco tempo do cara por lá.
Parei, acendi o cigarro e fiquei espiando. Uma hora ele (o padre), tocou a perna do aluno e deixou escapar:
– Filho, foi muito difícil trazer você daquele fim de mundo onde a gente nasceu pra cá... Espero que você reconheça...
– Claro, padre... Eu te conheço há muito tempo, sei que você é bom... Sou muito grato...
Notei logo que esse diálogo era meio ensaiado. Eles faziam aquele ritual todo, mas se olhavam com muita intimidade, como antigos amigos querendo quebrar o gelo; sei lá... Sei é que, no meio disso, o padre Alfonso se aproximou do cara e pegou direto no pau dele. O coitado engoliu de vez uma taça de vinho e disse, arregalou os olhos, e disse:
– Mas Alfonso, agora você é padre...
– Mas sinto falta do passado... Que é que tem?! Deixa...
O cara olhou prum lado e pro outro, virou outra taça...
– Tá bom, mas cuidado!
Eu estava de cara, que onda! Padre Alfonso sacou o pau do cara, que era um cavalo, diga-se de passagem, e começou a mamá-lo. O cara perdeu o espanto e começou a revirar os olhos. O padre sugava o mastro com devoção, de cima a baixo, deliciado, os cabelos lisos caídos na fronte. Chupou as bolas, sussurrou, levantou-se e se apoiou numa escrivaninha...
– Mas padre...
– Vem, faz com você fazia... Faz tanto tempo! Devo estar apertado...
O cara se ergueu, o pau descomunal a balançar. O padre levantou a batina e disse:
– Viu, agora sua puta usa saias...
Arriou as calças, o bom padre, e empinou a bunda branca, larga, macia, abrindo bem as pernas.
– Ai, to piscando!... Tomara que ainda aguente...
O seminarista aproximou-se, cuspiu no mastro e encostou a cabeça. O padre gemeu, começou a rebolar; rebolava feito mulher, girando, dançando no caralho do aluno. Ele foi forçando, entrando, rasgando o padre Alfonso, que se desmanchava, lambia os beiços, olhava pra trás e sorria cinicamente. Quanto estocou tudo, o cara parou, respirou fundo e disse:
– Vamos queimar no inferno...
– Vamos; queimar; arder; queimar...
– Isso é pecado...
– Ai, mete... É pecado, pecado; é proibido; mete; quero queimar, arder... Mete na sua puta pecadora...
O cara iniciou um vaivém. Esfolava o padre Alfonso em longas e fortes investidas, e quando eu achava que não faltava mais nada pra ver em matéria de sacanagem, o padre tira o celular de um bolso da batina e liga pra alguém.
– Vem aqui vem, na sacristia...
Em dois minutos entra o Denis, um cara grande, ruivo, espinhento, aluno difícil de tratar, desordeiro, erático, que já deveria ter sido expulso... Mas estava explicado por que não o fora.
– Vem, Denis...
Denis olha pro novato com leve desconfiança, que logo se dissipa. Saca um pau grosso e torto, de cabeça grande, mas não muito longo. Enfia-o na boca do padre que, nesse momento, demonstra uma habilidade que poucas donas de bordel detêm: faz-se ir e vir, como um balanço, entre os dois rapazes, de modo que, enquanto um pau estava entrando no cu, ou outro estava saindo da boca, e vice-versa. Acelerou os movimentos, masturbou-se por baixo, penetrado em dobro e repetidamente. De repente gozou, e fez os dois gozarem, porque apertou-se, gemeu, tremeu-se inteiro; derreteu.
Os garotos o encheram, transbordaram sobre ele, que delirava naquilo.
Depois se arrumaram e saíram. Padre Alfonso permaneceu no chão, todo aberto, curtinho, alisando os peitos, se lambendo.
Foi então que uma freira, que mora no convento ao lado, Irmã Patrícia* (*mais sobre Irmã Patrícia no conto (já publicado): No bumbum da freira; no jardim do convento...), entrou pelo corretor, retirou meu cigarro da mão e, diante de minha cara de espanto, asseverou:
– Mas que pecado! Respeite, pelo menos, o lugar em que você se encontra... Já pro castigo!
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