Aviso: Alteramos a página inicial para mostrar os novos contos que foram aprovados, não deixe de enviar seu conto.

P.C.P.B. (PARTE 3)

Dormi feito um anjo naquela noite. Eita sensação boa. Me lembro até hoje a leveza que aquilo me trouxe. Mas também me trouxe mais vontade. Eu queria mais... tinha certeza que a gente podia fazer mais coisas, e que ele queria, mas parecia meio culpado.

Eu não me senti dessa forma porque não tinha consciência das coisas. Era puro, inocente. As pessoas acham que é errado esse tipo de envolvimento. Mas o que há de mal senão a censura das pessoas, que em sua maioria, tem vontade de fazer as mesmas coisas?

Na manhã seguinte acordei tarde. O dia estava escuro e chovia bastante. Dia perdido, eu pensei. Tinha pensado em ir pra piscina, chamar meu tio, conversar. Tomei café sozinho e me dei conta que ele não estava em casa. Minha tia disse que ele tinha ido até a casa dos irmãos gaúchos, que ficava quase ao lado. Me incentivou a ir lá.

- Tem mesa de ping-pong lá, Felipe.

- Mas onde é?

- Na terceira cada, antes da esquina. Uma casa azul com portão branco.

Troquei de roupa e fiquei pensando se ia ou não. Resolvi que sim. Quem sabe a gente não poderia ficar sozinho na casa deles? Lá fui eu. Toquei a campainha.

- Ô guri, tudo bem?

- Tudo.

- Quem é, Lula?

- É o guri, sobrinho do Nelio.

- Felipe.

- Felipe... entra Felipe.

- Meu tio tá aí?

- Teu tio? Não, guri... tá não.

- Ah tá...

- Entra aí... ele disse que vinha pra cá?

- Minha tia falou que ele veio pra cá...

- Ele deve ter passado no Valdir antes. A gente viu ele sair de carro...

- Ah...

- Entra... sai da chuva guri.

Acabei entrando pra esperar meu tio. Fiquei meio sem graça, mas tava de olho na mesa de ping-pong! Tinha esquecido de sexo quando sentei no sofá e vi o Zequinha, irmão do Lula, vir falar comigo, sá de cueca.

- Ô, guri, tudo certo?

- Tudo bem.

- Tá procurando teu tio? Logo logo ele tá aí.

Zequinha estava de cueca. Sá de cueca. Era branca, com listras verticais azuis ou pretas, não lembro muito bem. Barbudo, cabelo branco, corpo liso e bem branquinho. Olhos azuis, bem azuis. Me senti vigiado, mas não era ele. Era o Lula.



Passava um jogo na TV a cabo, campeonato alemão. Zequinha voltou pra cozinha, estava fazendo alguma coisa pro almoço. Lula sentou do meu lado, meio impaciente.

- Você se importa se eu tirar a bermuda?

- Não, não...

- Sá botei o short pra atender a porta...

- Ah, tudo bem.

Fiquei mais sem graça ainda, mas tudo bem, já estava começando a aprender a admirar os homens do jeito que eles merecem e

gostam, e que geralmente as mulheres não fazem. Admirar com tesão, com um olhar verdadeiramente sacana. Admirar com gana.

Lula estava de cueca de lycra azul clara. Parecia seda, brilhava. Na hora que tirou o short eu olhei bem. Dava pra ver que era bem dotado. Aquele coroa de sobrancelha grossa, cabelo grisalho, bigode enorme... tinha guardado um grande conteúdo dentro da cueca. Era bem recheada, dava pra ver o contorno do pau. Fiquei nervoso... passei a olhar sá pra tela da TV.

Cadê meu tio, cadê meu tio? Eu ali, 1 dia depois de experimentar a maravilha que é chupar um cacete, com 2 coroas de cueca, sozinho... comecei a olhar para o nada... para o enfeite da mesa, para o chinelo do Lula no chão... passava o olhar pela cueca dele, sendo coçada... voltava a olhar a parede... e foi então que dei de cara com um brasão. Parecia um brasão de futebol, mas desconhecido.

- Seu Lula...

- Hein?

- Pra que time o senhor torce?

- Colorado.

- E o seu irmão?

- Zequinha também.

- Ah... achei que fosse outro time.

- Grêmio? Bah... tá doido?

- Não... é que vi aquele escudo ali, pendurado na parede...

- Qual?

- Aquele ali á.

Levantei e apontei pra ele ver do que eu estava falando. Foi quando li o nome do time: P.C.P.B.

- Ah... isso é que...

- Não, não... esse escudo é do... clube que temos.

- Clube?

- É... na verdade são os amigos que jogam futebol com a gente... é isso.

- Ah tá... mas o que quer dizer isso?

Ele gaguejou e foi salvo pela entrada do Zequinha, de avental, estranhando a minha proximidade do escudo.

- Que foi Lula?

- O Felipe... ele quer saber o que significa.

- O nome do clube de carteado?

- Ué? Não era futebol?

- Não...

- É...

As respostas se cruzaram e não me convenceram. O que era exatamente aquilo? Um partido? Uma seita? Por que tanto mistério? A campainha tocou novamente. Lula botou o short de volta e correu pra porta, deixando Zequinha na enrascada. Ele olhou pra mim meio sem jeito e desconversou:

- Deve ser teu tio. Vê lá.

Voltou pra cozinha. Ele tinha razão, era mesmo Tio Nelio.

- Ô Felipe, você está aqui?

- Tô... a tia disse pra eu vir pra cá.

- Ah...

Ele ficou sem graça. Tentou esconder o pacote que carregava na mão. Era uma sacola de farmácia. Ele entregou pro Lula, que foi pro quarto.

- Tio, o que é P.C.P.B.?

- Hein?

- Tem alguma coisa a ver com aquilo que a gente fez ontem?

- Menino...

- Conta tio...

- Depois a gente conversa sobre isso.

- Não pode me contar?

- Você é muito novinho pra isso...

- Pra quê?

- Lula! Que jogo é esse?

Meu tio levantou e foi até o quarto. Fiquei ali, com meus pensamentos, com minhas dúvidas... aquilo não estava me cheirando bem. Mas a comida... hummmmm

- Quer almoçar aqui Felipe?

- Quero.

- Então liga e avisa a tua mãe.



O almoço estava mesmo delicioso, mas era no mínimo diferente me sentar pra almocar com dois coroas de cueca e um terceiro que eu tinha chupado o pau um dia antes. Ainda por cima meu tio. Enfim... estava delicioso. E silencioso.

- Teu tio contou o que vocês fizeram ontem.

Meu tio olhou, branco, pro Zequinha.

- Você tem quantos anos guri?

- 14... quase 15.

- Tem namorada?

- Não.

- Nunca teve?

- Não.

- E gostou?

- Do que?

- Do que vocês fizeram.

- Gostei.

- Hum... quer mais?

Olhei pro meu tio sem entender nada. Onde ele estava com a cabeça? Tinha contado pros amigos? Eu ainda não tinha percebido que a relação deles era bem maior que amizade.

- Deixa ele Zequinha... tá muito novinho ainda.

- Que isso Nelio. Com 19 anos eu já tinha feito tanta coisa...

- Mas o Felipe é diferente.

- Não tio, eu gostei.

- Viu sá...

- Eu não devia ter contado pra vocês...

- Calma Nelio...

Meu tio deu o último gole na taça de vinho, levantou e me chamou pra ir embora.

- Espera aí Nelio.

Lula levantou e agarrou meio tio pelos ombros. Ele resistiu um pouco, mas não muito. Fiquei assustado. Não tinham tocado direito na comida... era certo que aquela histária de P.C.P.B. tinha a ver com o clima estranho. Me senti meio culpado. Não devia ter ido pra lá...

Zequinha pegou minha mão e pediu calma. Levantou e disse pro Lula levar meu tio lá pra dentro. Acabaram indo... meu tio muito nervoso.

Não sei o que conversaram, mas logo Lula voltou dizendo que meu tio queria conversar comigo.

Compicado? Demais... ainda mais pra minha cabeça, que na época não entendi nada vezes nada da vida. Eu sá queria experimentar aquela sensação de novo, e acho que a minha inocência assustava um pouco o meu tio. O tesão dele era evidente, mas parecia se sentir um pouco culpado por isso.

- Felipe... senta aqui.

- Tio, eu...

- Olha, desculpa eu te meter nessa confusão. Você não tem idade pra isso e...

- Tio, eu quero.

- Como assim?

- Eu não sei explicar, mas gostei. Quero de novo.

- O que?

- Aquilo. Aquilo que fizemos ontem.

- Tem certeza?

- Tenho. Eu quero mais.

- Olha garoto... sua mãe...

- Tio, minha mãe nem conversa comigo. Ela nunca vai saber. Se depender de mim...

- Você é muito novo pra isso... ai meu Deus.

- Eles gostam?

- Quem?

- Seus amigos. O Lula e o Zequinha.

- É...

- Gostei deles. A gente pode fazer juntos?

Meu tio olhou pra mim com a cara mais assustada do mundo, mas logo ficou tão excitado quanto eu. Era tudo o que ele queria.

- O Zequinha gostou muito de você...

- Então...

- Vamos fazer o seguinte... eu chamo ele aqui e vocês conversam. Quer?

- E o sr?

- Não quer conversar com ele?

- Quero... mas e o senhor?

- Vou chamar.

Meu tio me deixou sozinho com meus pensamentos e meu short já estufado. Se as últimas férias tinham sido chatas e entediantes, estas com certezas não íam mais sair da memária. Eu estava me descobrindo.

Zequinha entrou, sorrindo, aquela cueca branca já apontando pra mim.



(CONTINUA...)